“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Crise do Sistema Colonial/Brasil/Complemento

Muitas independências
     A interpretação sobre a independência do Brasil provocou e ainda provoca muitas divergências. Sob o ponto de vista econômico, alguns pesquisadores defendem que a separação ocorreu de fato em 1808, com o fim do monopólio comercial através da abertura dos portos ao comércio internacional. Outros, com interpretações mais políticas, indicam o 7 de setembro de 1822, embora nenhuma medida formal tenha sido tomada nessa data - foi um ato simbólico!
     Depois da Guerra do Paraguai, jornais republicanos argumentavam que a independência comemorada no Sete de Setembro não fez mais do que manter os brasileiros sob o "odioso poderio da família bragantina". D. Pedro havia atendido aos apelos de independência dos brasileiros, mas os teria traído quando fechou a Assembleia Constituinte em 1823. Enalteciam, então, a Inconfidência Mineira (1789), a Revolução Pernambucana (1817) e a Confederação do Equador (1824), movimentos com teor republicano, conforme as reais aspirações dos brasileiros.
     São várias interpretações, que variam de acordo com a posição política ou do momento histórico dos autores. Alguns intelectuais consideram até mesmo que o Brasil, hoje, tem uma independência mais nominal do que real, pois continuaria dependente dos países mais ricos.

A Independência da Bahia
     Além do dia 7 de setembro, quando se comemora a Independência do Brasil, os baianos celebram no dia 2 de julho a Independência da Bahia. Trata-se da vitória final, em 2 de julho de 1823, sobre as tropas portuguesas estacionadas na Bahia, dez meses após dom Pedro proclamar a independência do país. A vitória sobre os portugueses na Bahia, assim como em outras regiões do país, consolidou a independência do Brasil.
     A Revolução Liberal do Porto, em 1820, em Portugal, recebera a adesão de capitanias brasileiras do Norte e do Nordeste, onde comerciantes portugueses entusiasmaram-se com as propostas revolucionárias de rever os acordos comerciais com os ingleses e retomar o monopólio das trocas com a Europa. Entre os brasileiros, a expectativa de minar o poder absoluto animava os que desejavam participar mais da vida política do reino.
Os conflitos na Bahia
     Na medida em que as decisões das Cortes portuguesas chegavam à Bahia, o clima ficava mais tenso. As determinações dos liberais portugueses em favor da recolonização começavam a desagradar aos baianos, que viam sua autonomia diminuir e os lusos ganharem mais privilégios. Os baianos reivindicavam maior participação política. Em novembro de 1821, houve protestos contra ajunta de Governo da Bahia, constituída na sua maioria de lusitanos.
     As Cortes atenderam à reivindicação baiana e novos representantes foram eleitos para governar a província, com maioria de brasileiros. Mas as Cortes nomearam o português Inácio Luís Madeira de Melo para ser governador militar. Assim, enquanto a Junta de Governo representava o povo baiano, o chefe militar defendia os interesses das Cortes portuguesas.
     Essa situação gerou conflitos que envolveram militares e civis portugueses e brasileiros. A proclamação da Independência, em 7 de setembro de 1822, não diminuiu o ímpeto das disputas. As tropas portuguesas estacionadas na Bahia resistiram às forças baianas. Somente em 2 de julho de 1823, quando os britânicos já intervinham no conflito, os baianos conseguiram derrotar os lusitanos.
A participação feminina nos conflitos
Nos conflitos na Bahia, duas mulheres destacaram-se. Uma foi a abadessa Joana Angélica. Em fevereiro de 1822, tropas lusitanas procuravam rebeldes brasileiros escondidos em Salvador. No convento da Lapa, onde havia soldados brasileiros, a abadessa tentou impedir a entrada dos lusitanos, sendo morta por isso. Ela é considerada mártir da Independência da Bahia.
Outra mulher lutaria nos conflitos na Bahia. Contra os costumes da época, Maria Quitéria de Jesus decidiu participar da luta. Cortou o cabelo, vestiu-se como homem e alistou-se no Batalhão de Voluntários. Mesmo descoberta, Maria Quitéria foi incorporada à tropa e participou ativamente das lutas contra os portugueses até julho de 1823. Hoje é considerada heroína da Independência da Bahia.

A Conjuração do Rio de Janeiro
     A chamada Conjuração do Rio de Janeiro sequer chegou a se articular de fato, a ponto de alguns historiadores a chamarem de "a conjuração que não houve”: O vice-rei Conde de Resende, escaldado com o caso de Minas Gerais, passou a desconfiar das reuniões que membros da elite intelectual do Rio de Janeiro realizavam na Sociedade Literária, fundada na década de 1770.
      Mas as reuniões eram inofensivas: não passavam de encontros para discutir filosofia, religião e política, como na maioria das academias literárias da Colônia. Se de fato alguns dos participantes possuíam, em suas bibliotecas, livros considerados subversivos, não existe nenhuma evidência de que conspiravam contra Portugal. O vice-rei, em dezembro de 1794, mandou prender vários membros da Sociedade Literária, que acabaram processados pelo crime de conjuração. Nenhum deles foi condenado, por absoluta ausência de provas incriminadoras.

Tiradentes: de traidor a herói
     Mártir, desequilibrado, corajoso, idealista, falador, imprudente, idealizador da República, bode expiatório. Ao longo do tempo, são várias - e por vezes contraditórias - as imagens produzidas sobre Tiradentes.
     As diversas percepções sobre sua atuação respondem, na verdade, aos momentos históricos vividos pelos que dele trataram. Desde o século XIX foi apresentado com o emblema de herói.
     O Visconde de Taunay, em 1889, após a proclamação da República, reclamava que os republicanos estavam tentando monopolizar sua figura, transformando-a em herói republicano. Dizia o Visconde que a independência de 1822 libertou o Brasil de Portugal, sonho de Tiradentes, e que, portanto, também ao Império ele pertencia.
     Exaltar a liberdade na figura de Tiradentes uniu grupos das mais variadas origens. Foi representado como um herói antigo, como caboclo, mas foi como um mártir que mais foi retratado.
     Exemplo dessa dinâmica são as diferentes representações feitas do personagem, aproveitando-se do fato que dele não existe qualquer retrato de época, apenas descrições feitas nos processos da Inconfidência.

Observe as obras:
“Tiradentes Esquartejado”, de Pedro Américo, pintado em 1893, em Florença, onde o artista morava.

Painel intitulado “Tiradentes”, de Candido Portinari, pintado entre 1948 e 1949. (Fundação Memorial da América Latina, São Paulo.)
 A fuga da família real
     As crônicas sobre a saída da Corte portuguesa da Europa são contraditórias. Contam que na noite de 26 novembro nobres esbaforidos teriam corrido rumo ao cais e alguns, na tentativa de alcançar a nado as embarcações, teriam morrido afogados. Consta que D. João seguiu para o cais disfarçado, tendo sido levado nos braços até a embarcação.
     Hoje, os historiadores alegam que essa imagem está mais para o anedótico do que para a realidade. O que se sabe, ao certo, é que milhares de pessoas deixaram Lisboa - alguns dizem ter sido 8 mil; outros, 15 mil -, entre elas nobres e toda a família real: D. João, sua mãe, D. Maria I, sua mulher, D. Carlota Joaquina, e seus oito filhos. A superlotação e a falta de mantimentos, água e remédios foram comuns a todas as embarcações. D. João acabou desembarcando na Bahia, em 22 de janeiro de 1808. Foi recebido calorosamente por parte da população, que lotava o porto. Era a primeira vez que um rei europeu pisava em terras da América. E foi principalmente por esse motivo que a independência do Brasil seguiu um rumo diferente das independências das colônias da América espanhola.

Leia os dois textos que mostram visões diferentes a respeito de D. João, do Reino Português e da vinda da família real para o Brasil.
I
     "Segundo filho da rainha louca, d. João não tinha sido educado para dirigir os destinos do país. [...] Além de despreparado para reinar, d. João era um homem solitário às voltas com sérios problemas conjugais [...]. O príncipe regente era tímido, supersticioso e feio. O principal traço de sua personalidade e que se refletia no trabalho, no entanto, era a indecisão. [...] Em novembro de 1807, porém, d. João foi colocado contra a parede e obrigado a tomar a decisão mais importante da sua vida. [...] Encurralado entre as duas maiores potências econômicas e militares de sua época, d. João tinha pela frente duas alternativas amargas e excludentes. A primeira era ceder às pressões de Napoleão e aderir ao Bloqueio Continental. A segunda, aceitar a oferta dos aliados ingleses e embarcar para o Brasil levando junto a família real, a maior parte da nobreza, seus tesouros e todo o aparato do Estado. [...] Havia, obviamente, uma terceira alternativa, que sequer foi considerada por d. João. Seria permanecer em Portugal, enfrentar Napoleão e lutar ao lado dos ingleses na defesa do país [...], mas, em 1807, essa opção não estava ao alcance do inseguro e medroso príncipe regente. Incapaz de resistir e enfrentar um inimigo que julgava muito mais poderoso decidiu fugir."
(GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta, 2007.)
II
     "A situação era grave, como bem sabia o gabinete português. Logo após a chegada da esquadra britânica, foi convocado o Conselho de Estado, que se reuniria em várias ocasiões até novembro de 1807 para discutir a situação e propor soluções [...]. Foi nessas ocasiões que a proposta de transferência da corte para a América começou a ganhar contornos consistentes e definitivos, principalmente a partir de agosto de 1807, com a iminência de uma invasão franco-espanhola do território português [...].Os estadistas portugueses, pensando e agindo em meio a um turbilhão de acontecimentos e sob fortes pressões, mostravam-se capazes de fazer uma acertada leitura de conjuntura. Aliás, essa era a sua função. Por isso, quando conceberam e realizaram a mudança da corte para a América, não agiam como 'visionários' ou 'beneméritos', apenas faziam aquilo que muito provavelmente outros governos na mesma situação fariam [...]. A concretização da medida em Portugal, tomada por um grupo de estadistas, tampouco deve servir de argumento para tolas pretensões de 'recuperação da imagem' de d. João - ou seu oposto, a igualmente tola ideia de que era um príncipe 'medroso' [...]. D. João não parece ter sido nem mais nem menos talentoso ou medíocre do que seus colegas de ofício europeus. Da mesma forma, a transferência da corte foi uma medida emergencial, bem-sucedida a curto prazo, mas incapaz de garantir, por muito tempo, a longevidade do Império Português na América."
(SLEMIAN, Andréa; PIMENTA, João Paulo. A Corte e o mundo: uma história do ano em que a família real portuguesa chegou ao Brasil. São Paulo: Alameda, 2008.)

 A rainha
       Um dos principais problemas enfrentados por D. João foi com sua própria mulher. Absolutista convicta,
D. Carlota Joaquina articulou várias conspirações contra o marido, uma delas em 1805, em que pretendia assumir o governo no lugar de D. João. O plano não deu certo, e ela foi exilada por um tempo no Palácio de
Queluz, em Portugal, acarretando no rompimento definitivo entre os dois.
     D. Carlota Joaquina detestava o Brasil. A partir do Rio de Janeiro, tentou assumir a regência do Vice-reino do Rio da Prata, contando com o apoio do almirante inglês Sir Sidney Smith, tido como um de seus amantes, comandante da escolta britânica em 1808. Sua intenção principal, porém, não era a de se tornar a rainha do Prata, como sugeriram, mas defender os interesses da Espanha. Era filha de Carlos IV e irmã de Fernando VII, destronados por Napoleão.
     Foi descrita como mulher de baixa estatura (menos de um metro e meio), morena, com feições andaluzas (sul da Espanha, meio mourisca), com vários amantes, embora alguns historiadores a tenham descrito como beata e devota.
     Negou-se a jurar a constituição das Cortes de Lisboa, em 1821, sendo confinada no palácio real. Anos depois, tentou outra conspiração para que D. Miguel, seu filho, assumisse o reinado de Portugal, movimento conhecido como "Abrilada". D. Miguel chegou a prender o pai, mas foi vencido e deportado.
D. Carlota acabou desterrada novamente no Palácio de Queluz.
     Alguns historiadores sugerem que o único golpe bem-sucedido de Carlota foi o assassinato de D. João VI, em 1826, aparentemente por envenenamento (segundo alguns, a mando dela). A rainha ainda articulou um outro movimento para aclamar seu filho D. Miguel como rei de Portugal.
     Carlota Joaquina morreu em 1830, aos 65 anos, aparentemente de morte natural. Sua figura, como a do marido, foi e é motivo de divergência. Era, sem dúvida, mulher avessa ao diálogo e intransigente defensora do governo absoluto.

D. João no Brasil
     D. João e sua corte desembarcaram em janeiro de 1808 e se estabeleceram no Rio de Janeiro, após escala em Salvador. Seu governo tomou medidas que mudaram totalmente a posição que o Brasil ocupava no Império Português.
     A mais importante foi a Carta Régia, assinada quando ainda estava em Salvador, que determinou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Com a ocupação francesa em Portugal, o governo tinha de providenciar com rapidez -sua principal fonte de receitas: os impostos alfandegários. A Carta Régia ordenava que todas as mercadorias fossem admitidas nas alfândegas do Brasil, transportadas ou não por navios portugueses, pagando o imposto de 24% sobre seu valor. Determinava, também, que tanto os súditos de Portugal como os estrangeiros poderiam exportar para qualquer porto os produtos do Brasil - com exceção do pau-brasil e do diamante -, pagando por saída os impostos usuais.
     Essa medida rompeu o monopólio dos portugueses sobre o comércio colonial. Os comerciantes locais ficaram muito satisfeitos, pois se abriu a possibilidade de negociarem diretamente com outros mercados. Estavam preparados para o novo papel, pois praticavam rotineiramente, desde o século XVIII, o tráfico de escravos nos portos da África. Os grandes prejudicados foram os comerciantes de Portugal, que perderam a exclusividade na intermediação entre os mercados colonial e europeu.
     Quando da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, o vice-rei do Brasil, o conde dos Arcos, reservou seu palácio para moradia da família real e sede do governo. Mas D. João preferiu ter como domicílio a Quinta da Boa Vista, oferecida pelo negociante português de escravos Elias Antônio Lopes, em troca de inúmeros benefícios. Muitos dos demais nobres requisitaram outras residências, em geral as mais ricas – era um privilégio da nobreza portuguesa tomar posse de moradias, mesmo que os proprietários as habitassem. No Rio de Janeiro, tal prática passou a ser odiosa para a população. Quando uma residência era requisitada, o governo colocava na fachada a inscrição P.R., de Príncipe Regente, ironicamente chamada pela população de "Ponha-se na Rua" ou "Prédio Roubado".
     D. João exercia a regência de Portugal desde 1792, pois sua mãe, D. Maria I, abalada pela perda de um filho e do marido em um curto período de tempo, estava impossibilitada de reinar. D. Maria I morreu em 1816, mas somente em 6 de fevereiro de 1818 D. João foi aclamado rei, com o título de D. João VI. Foi o primeiro e único monarca europeu a assumir o trono na América.
     O estabelecimento da Corte no Rio de Janeiro é o marco inicial da emancipação política do Brasil.

Longe de Napoleão, mas não da cultura francesa.
     Um dos muitos efeitos da expansão napoleônica foi o impulso renovado à difusão da cultura francesa pela Europa: desde os modos de se vestir, comportar-se, falar e comer, até as influências na decoração e nas artes plásticas. Um tanto surpreso Napoleão relatou a sua esposa que, ao entrar na Rússia durante a campanha de 1812, encontrara móveis com estilo francês.
     Se d. João havia conseguido escapar por pouco de Napoleão, seguindo para o Brasil um dia antes da entrada dos soldados franceses em Lisboa, o mesmo não aconteceria em relação à cultura e aos costumes provenientes da França, que, desde o século XVII, nos tempos de Luís XIV, era um centro irradiador de tendências na moda e nas artes. A Corte portuguesa, como tantas outras, esforçava-se para aprender os costumes de Paris e a língua francesa. Até 1807, as elites políticas lusas dividiam -se entre os adeptos de uma aliança com a França e os defensores do tradicional alinhamento com a Inglaterra.
     No Rio de Janeiro do período joanino não foi diferente. Apesar da hostilidade a Napoleão, a cultura francesa era reverenciada. Havia cabeleireiros oferecendo penteados "à moda de Paris". As lojas vendiam gêneros diversos, como "água-de-colônia", "essências", "sapatos e chinelas", "chapéus" e "champanha", tudo "vindo de Paris". Depois da queda do imperador, essa influência intensificou-se. Modistas parisienses vieram para o Brasil e encantaram suas clientes com os figurinos das francesas.
      Tais influências não passaram despercebidas aos viajantes estrangeiros. Eles logo notaram a semelhança entre a postura das damas em Paris e no Real Teatro de São João, no Rio de Janeiro. Ou registraram a etiqueta à mesa, inspirada nos modos de servir e de se comportar próprios das cortes francesas do século XVIII.
     A chamada Missão Artística Francesa também era um traço da presença marcante daquela cultura. Para "refinar os gostos" ou "civilizar" a nova sociedade, era necessário buscar modelos europeus, franceses, sobretudo. No entanto, a influência dos costumes franceses na sociedade carioca do período joanino limitou-se basicamente ao ambiente cortesão e às elites locais.
     Nas décadas seguintes, houve, no Brasil, uma nítida divisão entre a influência inglesa e a francesa. Os primeiros predominavam na economia e em aspectos como a moda masculina, que se tornou mais sóbria e adotou tons mais escuros. Já os franceses influenciaram as artes em geral, a etiqueta e o mobiliário, reinando absolutos na moda feminina, que encontrava em Paris sua fonte inspiradora.
O Grito do Ipiranga
     Em agosto de 1822, D. Pedro estava em viagem política pela província de São Paulo quando chegou ao Rio de Janeiro um navio com documentos das Cortes de Lisboa que limitavam o poder e a autoridade do príncipe regente. Tais informações foram enviadas a D. Pedro junto com cartas de D. Leopoldina, dos conselheiros e de José Bonifácio, todas insistindo na separação imediata de Portugal. A de José Bonifácio dizia: "Senhor, o dado está lançado: de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores". Decidindo-se, D. Pedro teria dado o brado de "Independência ou morte!". O dia era 7 de setembro, e o lugar, as margens do rio Ipiranga.
   O evento não teve grande repercussão, nem mesmo quando, no dia 20 do mesmo mês, o periódico O Espelho publicou um artigo se referindo ao grito de "Independência ou morte" como "o grito acorde de todos os brasileiros", apresentando os motivos que justificavam o rompimento com Portugal: "os decretos injustos e cruéis" de uma facção arrogante, que prevaleceu nas Cortes de Lisboa e que sacrificou a união de dois hemisférios à sua ambição, ao atropelar os "direitos inauferíveis do cidadão".
     Para os historiadores, dois fatores explicam a pouca importância dada ao 7 de setembro: o fato de a Independência já estar consumada desde a convocação, em 3 de junho, de uma Assembleia Constituinte e por terem sido declaradas inimigas as tropas enviadas por Portugal (decreto de 1º de agosto). A transformação do 7 de setembro em data comemorativa oficial da independência do Brasil só aconteceu bem depois. Havia outras datas mais apropriadas para comemorar o Império, como a da aclamação de D.
Pedro I, em 12 de outubro de 1822, a da coroação, em 1º de dezembro do mesmo ano, e a da outorga da primeira Constituição, em 25 de março de 1824.
      O Grito Interpretação romântica do pintor Pedro Américo (1843-1905) sobre o momento em que D. Pedro, em viagem a São Paulo, teria decidido enfrentar as Cortes portuguesas que tentavam obrigá-lo a voltar a Portugal, dizendo a frase eternizada pelos historiadores: "Independência ou morte". A pintura foi realizada muito tempo depois, em 1888, e foi encomendada pelo governo do Brasil. O pintor resolveu não ficar "preso à verdade". No quadro, vê-se D. Pedro ao centro empunhando a espada, junto de sua comitiva, sob os olhares espantados de tropeiros, à esquerda. Todos estão montados em cavalos imponentes, inapropriados para as longas viagens (feitas, na maioria das vezes, em lombos de mulas). O pintor selecionou trajes que dessem maior elegância ao príncipe e sua comitiva. A Guarda de Honra do Imperador foi adicionada à tela posteriormente. Não há registro documental sobre o príncipe português ter realmente proferido a frase.
Fonte:
História, ensino médio. Organizadores: Fausto Henrique Gomes Nogueira, Marcos Alexandre Capellari. - 1. ed. - São Paulo: Edições SM,2010. - (Coleção ser protagonista)
História: O Longo séc. XIX, volume 2. Ronaldo Vainfas... [et al.] - São Paulo: Saraiva, 2010. 
Saiba - Mais:
Filme 
Carlota Joaquina
O filme conta, satiricamente, parte da história da monarquia portuguesa, e a elevação do Brasil, de colônia do império ultramarino português, a reino unido com Portugal. Também faz referências a monarquia espanhola. A morte do rei de Portugal D. José I de Bragança, em 1777, e a declaração de insanidade da filha herdeira do precedente, a rainha D. Maria I, em 1792, levam seu filho, o então príncipe D. João de Bragança e sua esposa, a infanta espanhola Carlota Joaquina de Bourbon, ao trono real português. Em 1807, para escapar das tropas napoleônicas que invadiam Portugal, a corte portuguesa e o casal transferem-se às pressas para o Rio de Janeiro, onde a família real e grande parte da nobreza portuguesa vivem exiladas por 13 anos. Na colônia aumentam os desentendimentos entre Carlota Joaquina e D. João VI, que após a morte da mãe, D. Maria I, deixa de ser príncipe-regente e torna-se rei de Portugal e, posteriormente, rei do reino unido de Portugal, Brasil e Algarves
Direção: Carla Camurati
Ano: 1995
Áudio: Português
Duração: 100 minutos

Documentário:
A Corte no Brasil

Reportagem: Sandra Moreyra e Mônica Sanches
Ano: 2009
Áudio: Português
Duração: +- 20 minutos (cada episódio)



 1º episódio – A fuga dos Reis – O Tejo tema de tantos e poemas, ponto de partida das viagens que levaram aos grandes feitos e descobertas dos navegadores lusitanos, foi testemunha de um embarque inusitado 200 anos atrás.

2º episódio – Nobreza e política – No início do século XIX, a amizade entre Portugal e Inglaterra já tinha 500 anos. A mais duradoura aliança entre dois países. Parceiros no comércio navegavam juntos contra os piratas e os inimigos.

3º episódio – Um reino sem Rei – Um povo abandonado. Depois da partida da família real a dor tomou conta dos portugueses. Uma tristeza do fado, este sentimento de orfandade, faz parte da história de Portugal.

4º episódio – A travessia – Ha 2900 km do Brasil, uma ilha vulcânica se ergue no meio do Oceano Atlântico. Na Santa Helena, um Napoleão derrotado pelos ingleses, dita suas memórias a dois companheiros, Admite que a invasão da Península Ibérica foi um erro, reconhece que o príncipe D.João de Portugal, foi o único que conseguiu enganá-lo, quando embarcou para o Brasil.

5º episódio – Chegada à Bahia – A viagem da corte portuguesa, já durava quase dois meses desde a partida no porto de Lisboa em Novembro de 1807. Um típico por de sol em Salvador, fez o soldado de plantão no forte, no dia 21 de janeiro de 1808, levar um grande susto e correu para contar a novidade. Ao norte, quatro embarcações que parecia ser de guerra se aproximavam, a primeira no horizonte tinha a bandeira da Inglaterra. João de Saldanha da Gama, o conde da Pontem governador geral da Bahia recebeu a notícia e ficou em pânico. No diário que escreveu, ele relata o medo de uma invasão inglesa até o outro de que as outras naus eram portuguesas e uma trazia o pavilhão real.

6º episódio – O desembarque no Rio de Janeiro – O brique voador era a nau mais veloz da frota portuguesa. A tripulação do voador fora designada uma importante missão. Chegar ao Brasil o quanto antes. O voador partiu de Portugal na véspera do embarque da corte. No navio seguiam documentos, com algumas decisões do príncipe regente D. João, um comunicado que ia deixar o Rio de Janeiro em polvorosa.

7º episódio – A economia do tempo de D. João – O Brasil já era a economia do futuro em 1808. Um território imenso a ser explorado, o interior ainda desconhecido, um extenso litoral com portos apropriados para o comércio. Um mercado consumidor praticamente vigente. Ansioso para receber novidades estrangeiras. Muitas eram as possibilidades e infinitas as dificuldades para o governo de D. João.

8º episódio – A política no tempo de D. João – No tempo de D. João, governar Portugal era viver na defesa. Temer constantemente os vizinhos, maiores, mais fortes e poderosos. No Brasil o soberano destas vastas terras, descobriu que havia uma enorme diferença. Naquela época, tamanho era documento, a conquista de territórios, uma carta na manga, para negociar a qualquer momento em períodos de guerra ou quando chegasse a paz.

9º episódio – A corrupção – No Brasil colonial ostentar riqueza era proibido. Nas roupas, nada de tecidos nobres ou ricos bordados, nas casas muita simplicidade. Tudo isso mudou com a chegada da corte. O luxo nas festas, os gastos descontrolados, a troca de favores, a burocracia aliada a corrupção, tinham exemplos que vinham de cima, do trono e dos fidalgos que cercavam a monarquia aqui instalada.

10º episódio – Arte e ciência, o Reino do saber – Quando Napoleão perdeu a guerra, a família real portuguesa não voltou para a Europa. O Brasil naquela altura dos acontecimentos, tinha se tornado o melhor lugar para se chamar de lar, onde sede do Império Colonial Português. Faltava apenas arrumar a casa, enfeitar o Rio de Janeiro, dar uma sofisticação a este reino tropical, foi o que fez D. João.

11º episódio – Templo dos livros e da música – As catedrais e as bibliotecas são até hoje templos imponentes em Portugal. Em 1808, na nova corte do Rio de janeiro, D. João fez que são de cultivar as duas paixões da Família Bragança. Quando voltou para Lisboa, deixou os tesouros na Real Biblioteca no Rio de Janeiro. Enquanto viveu no Brasil contratou músicos, maestros e cantores trouxe atrações internacionais. Duzentos anos atrás, encontramos as raízes das nossas bibliotecas públicas e da música brasileira.

12º episódio – O retorno da corte – A família de D. João VI, viveu uma saga surpreendente até os momentos finais. O Rei não queria deixar o Rio de Janeiro, em Lisboa a rainha Carlota Joaquina e seu filho, príncipe Miguel, comandaram um governo de terror. Duas crianças, filhos de D. Pedro, receberam as coroas do Brasil e de Portugal. Duzentos anos depois com o fim da monarquia no Brasil, ficaram os herdeiros do trono que não existe mais.

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