“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 10 de março de 2012

Roma Antiga/Complemento

A herança da civilização romana.
     Calcula-se que cerca de 60 milhões de pessoas viviam em terras controladas por Roma no início da era cristã. Nessa imensa área, constituída por uma vasta rede de cidades, desenvolveu-se uma civilização urbana e integrada. Podemos ter acesso a essa cultura por meio das obras públicas que permaneceram conservadas, caracterizadas por sua harmonia e monumentalidade.
     A maior herança deixada pelos romanos ao mundo moderno são a língua latina e as instituições romanas. O latim deu origem a línguas como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno e o catalão. Os códigos de direito moderno e as principais instituições políticas de nossos sistemas de governo se baseiam na cultura romana.
     De todas as instituições romanas, contudo, a única que se manteve presente até os dias de hoje foi a Igreja Católica. O cristianismo, fundamento do catolicismo, triunfou como religião no período que vai do século IV ao século VI. As comunidades cristãs, inicialmente perseguidas e ilegais, difundiram-se por toda a Roma e tornaram-se a base de uma nova forma de poder.

Rômulo, Remo e a loba.
      Muitas vezes os relatos da Antiguidade misturam a realidade e a fantasia. Há duas versões que contam como foi a fundação de Roma: a lenda e a versão histórica.
     Segundo a lenda, Réa Silvia, sacerdotisa do templo da deusa Vesta, deu à luz duas crianças gêmeas e as abandonou em um cesto no leito do rio Tibre. Os meninos eram fruto de uma união proibida com Marte, deus da guerra - na qualidade de sacerdotisa, a jovem deveria manter-se virgem.
     Por intervenção de Marte, a correnteza do rio conduziu os gêmeos à terra firme, nos arredores do monte Palatino. Foi então que uma loba, enviada pelo pai dos gêmeos, acercou-se deles, amamentou-os e levou-os para junto de seus filhotes. Tempos depois, um pastor encontrou as crianças, deu-lhes os nomes de Rômulo e Remo e os levou para sua cabana, no monte Palatino, onde cresceram fortes e saudáveis.
     A lenda também conta como os irmãos receberam terras de um rei imaginário para fundar uma cidade onde a loba os tinha encontrado.
    Rômulo traçou sobre o monte Palatino um grande círculo, sulcando o solo com um arado. A terra revolvida simbolizava a muralha e o sulco representava o fosso da nova fundação urbana: Roma. Mas Remo zombou e pisoteou o desenho. Furioso, Rômulo saltou sobre Remo e o matou com um golpe de espada. E sentenciou: "Assim morrerá quem, de futuro, transpuser as minhas muralhas".
     A lenda narra, de maneira simbólica, a fundação de Roma, cidade situada na região do Lácio, cujos habitantes, os latinos, eram originalmente pastores e guerreiros protegidos pelos deuses.

A conquista do Mediterrâneo.
     “O primeiro grande empreendimento fora da Itália exercido por Roma foi o confronto com Cartago, as chamadas guerras púnicas. Esta poderosa cidade do norte África tinha como uma de suas principais fontes de riqueza o comércio marítimo. Desde o início da República, as duas cidades mantiveram tratados de aliança. Com o crescimento de Roma, contudo, os cartagineses perceberam que tinham uma poderosa concorrente. Os romanos, por sua vez, também avaliaram que seus interesses competiam com os de seus antigos aliados. As duas cidades pretendiam dominar política e economicamente o sul da Itália, e, em vista disso, surgiram desentendimentos que deram início à guerra, em 264 a.C.
     As guerras púnicas foram travadas em três fases, e em todas os romanos saíram vitoriosos. Para a primeira guerra, de 264 a 241 a.C, os romanos construíram poderosa frota marítima, uma vez que, até então, haviam combatido em terra firme. A vitória de Roma, no entanto, não eliminou as ambições dos cartagineses. Após a derrota, estes procuraram reconstruir seu império, até que em 218 entraram novamente em guerra. A segunda guerra púnica, de 218 a 202 a.C, apesar de ter o mesmo vencedor, foi muito diferente da primeira. Chefiados por um general chamado Aníbal, os inimigos de Roma a atacaram por terra, depois de terem cruzado partes da península Ibérica, da Gália e dos Alpes.
      Mesmo pressionados em seu próprio território, os romanos conseguiram expulsar o exército de Aníbal e atacar o norte da África, ameaçando Cartago. Derrotados, os cartagineses foram dominados por Roma e sua cidade foi enfraquecida: ficaram proibidos de possuir marinha de guerra e obrigados a pagar tributos anuais aos vencedores. Uma última guerra foi travada entre as duas cidades, entre 149 e 146 a.C, guerra na qual Cartago foi arrasada e Roma consolidou seu domínio sobre todo o lado ocidental do Mediterrâneo. Ao contrário do que aconteceu nas duas primeiras guerras púnicas, na terceira os inimigos se encontravam em situações muito diferentes: Roma já possuía um grande império. Cartago, por sua vez, era agora uma pequena cidade, que, apesar de praticamente indefesa, ainda tinha conseguido resistir a três anos de ataques dos romanos
     As guerras púnicas foram as guerras mais importantes dentre as travadas pelos romanos nessa época. Poucos inimigos eram tão poderosos e ricos quanto os cartagineses. Com a vitória, Roma passou a ser conhecida entre todos os povos que viviam no Mediterrâneo. Isso foi reforçado porque, ao mesmo tempo que enfrentavam Cartago, os romanos também entraram em guerra com outras cidades e outros reinos, particularmente de origem grega. [...]”
 (MACHADO, Carlos Augusto Ribeiro. Roma e seu império. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.)
 Escravidão e rebelião.
     As sucessivas lutas travadas na península Itálica puseram ao alcance da oligarquia senatorial vastos territórios confiscados durante as guerras. Em finais do século III a.C., as pequenas e médias propriedades, dedicadas à agricultura mista, isto é, ao cultivo de cereais, leguminosas e ao pastoreiro, deram lugar ao latifúndio e à monocultura.
     Expulsos dos pequenos lotes, os camponeses migraram para as cidades, aumentando o número de artesãos e desocupados urbanos. Os escravos, capturados nas guerras de expansão, tornaram-se a base da mão de obra na economia romana.
     Esse novo cenário era resultado do gigantesco esforço militar romano, dependente de uma contínua mobilização de soldados, o que só foi possível com a adoção de um sistema de produção baseado na mão de obra escrava, que substituía o pequeno agricultor.
     A condição dos escravos no mundo romano variou conforme a época, a origem e o meio em que viviam (urbano ou rural). Os que sabiam ler e escrever, por exemplo, atuavam como administradores nas grandes propriedades, supervisionando o trabalho dos outros cativos e a comercialização dos produtos.
     Mas, em geral, os escravos rurais tinham uma vida sofrida e curta. Estavam sujeitos a terríveis castigos quando desafiavam os senhores ou tentavam fugir. O trabalho nas minas, reservado à mão de obra escrava, era muito penoso e difícil.
     No ambiente urbano, no entanto, os escravos desfrutavam de alguma autonomia. Faziam serviços domésticos, ou trabalhavam na produção artesanal ou no comércio. No século I a.C., o auge do tráfico de escravos, os cidadãos romanos possuíam muitos cativos para serviço pessoal.
     O escravo podia agir em nome do seu senhor com o fim de adquirir ou alienar propriedade, tornando-se seu representante legal. Nesse caso, era comum o senhor conceder a ele, definitivamente, uma parte da propriedade. Assim, o cativo poderia investir e comprar sua liberdade ou mesmo adquirir outros escravos para que o substituíssem no trabalho.
     A alforria ou manumissão era uma prática comum no mundo urbano. Mas o escravo contraía uma dívida moral para com seu antigo dono, quando a liberdade lhe era concedida.
     O contraste entre a escravidão no campo e na cidade deu origem a muitas revoltas entre os escravos rurais. A mais famosa foi a de Espártaco no ano 73 a.C; liderada por um grupo de gladiadores na Campânia. Milhares de escravos participaram com o objetivo de retomar às terras de origem. Outra revolta importante ocorreu na Sicília, entre 136 e 133 a.C; quando milhares de escravos tomaram o poder, estabeleceram um governo despótico e escravizaram a população local. Sem uma proposta alternativa à escravidão, acabavam por reproduzi-la.
     Os escravos revoltosos lutavam, antes de tudo, pela própria liberdade. Jamais almejaram extinguir a escravidão no mundo romano ou formar uma outra sociedade.

A escravidão e o estoicismo.
     A situação social dos escravos podia variar bastante. Havia escravos muito mais ricos e poderosos que alguns cidadãos: escravos educados que se tornavam funcionários do Estado ou administradores nas casas das famílias nobres. Também era comum professores, arquitetos, músicos e comediantes a serviço dos nobres serem escravos e gozarem de uma condição melhor que a de muitos trabalhadores livres.
     Mesmo assim, todo escravo, qualquer que fosse sua condição, poderoso ou miserável, era tratado como um ser inferior. Havia senhores que, ao morrerem, libertavam todos ou alguns de seus escravos, deixando uma imagem de bom amo e homem clemente. Libertar escravos significava abrir mão de uma propriedade e era visto como um mérito individual e não como um dever social.
     No decorrer dos séculos I a III d.C; entretanto, a atitude com relação aos escravos se modificou. Ninguém chegou ao ponto de questionar a escravidão. Mas passou-se a cobrar um tratamento mais justo para o escravo. Essa mudança estava relacionada principalmente à difusão do estoicismo na elite romana.
Os estoicos defendiam a ideia de que o homem é apenas parte de uma ordem racional que governa o universo. Por terem uma alma racional, todos os seres humanos são divinos. Com base nessa visão de mundo, os estoicos formularam uma ética que pregava que todo indivíduo, independente de sua condição
de nascimento ou posição social, merecia respeito pelo fato de ter uma alma dotada de razão.
     Os estoicos não questionavam diretamente a instituição da escravidão, porém defendiam um tratamento mais humano para os escravos, limitando o direito dos senhores de castigá-los.
     Considerado um dos maiores escritores latinos, Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C.-65 d.C) foi filósofo estoico e senador romano. Perseguido pelo imperador Nero, foi obrigado a cometer suicídio.
Veja o conselho dado por Sêneca a um amigo com relação aos escravos:
"Reflitas em que esse a quem chamas teu servo, nascido da mesma semente, vive sob o mesmo céu, respira da mesma maneira, da mesma maneira vive e da mesma morre! Tanto podes tu vê-lo livre como ele a ti escravo [...]. Não quero me meter numa questão imensa e dissertar sobre o tratamento dos escravos, com os quais somos extremamente orgulhosos, cruéis e injuriosos. Em suma, a minha doutrina é esta: vive com um inferior da mesma maneira que quererias que um superior vivesse contigo. Todas as vezes que te lembrares dos teus poderes sobre o teu servo, outras tantas te lembrem os do teu senhor sobre ti."
(SÊNECA. Cartas a Lucílio, 47, 10-11. In: PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Romana: antologia da cultura latina. Coimbra: Universidade de Coimbra instituto de Estudos Clássicos, 1994.)

O Cristianismo: de Jesus aos mártires.
     Os romanos adotaram na Judeia, berço do cristianismo, a mesma política das outras regiões anexadas por Roma. As populações conquistadas tinham liberdade de culto desde que estivessem sob o controle dos sacerdotes de cada credo e não desafiassem as autoridades imperiais.
     A Judeia apresentava importantes portos, estradas e centros urbanos, como Cesareia e Jerusalém, que concentravam comércio e artesanato significativos. Artesãos de várias habilidades ganhavam a vida na região dedicando-se à construção civil, à tecelagem ou à produção de cerâmica, perfumes e artigos em couro. Mas a principal atividade econômica era a agricultura, dedicada ao cultivo de cereais, hortaliças e plantas aromáticas.
     Quando Jesus iniciou sua pregação, a Judeia era governada por procuradores romanos com sede em Cesareia, nas margens do Mediterrâneo. A dominação foi, como sempre, seguida de múltiplos impostos, fonte de tensões e revoltas, como a dos Zelotas, no século I d.C.. Alguns historiadores sugerem que o movimento liderado por Jesus de Nazaré, filho do carpinteiro José, era parte desse descontentamento hebreu contra a dominação romana.
     Mas isso parece não ser exato. A pregação de Jesus de Nazaré não desafiou as autoridades romanas, mas atingiu frontalmente os sacerdotes do templo, controlado pelos fariseus, sobretudo depois da chegada de Jesus em Jerusalém e dos tumultos ali ocorridos.
     Dizendo-se o messias anunciado pelos profetas nas Escrituras, Jesus arrastou multidões. Foi preso e julgado pelo Sinédrio, conselho responsável pelos assuntos da comunidade judaica. O desfecho, segundo o Evangelho, foi a crucificação de Jesus, no ano 33 d.C., por ordem de Pôncio Pilatos, governador romano da Judeia, atendendo às pressões dos fariseus.
     Mulheres, escravos, pescadores, pastores e agricultores pobres foram os primeiros seguidores de Jesus na Judeia. A promessa de redenção das dores e a valorização dos pobres e oprimidos, ainda que após a morte, atraiu excluídos e marginalizados. A pregação de Jesus não tencionava, porém, fundar uma nova religião, senão reformar profundamente o judaísmo, favorecendo a espiritualidade e a aliança com Deus.
     A pregação dos apóstolos de Jesus, iniciada na Palestina e transmitida, de início, para o Mediterrâneo oriental, acabaria por fundar o cristianismo no século I d.C.. Paulo de Tarso, judeu e cidadão romano, foi o grande responsável pela propagação do cristianismo para além do mundo judaico. O apóstolo dos gentios (pagãos), como era chamado, fundou comunidades em várias cidades mediterrâneas e escreveu cartas para orientá-las.
     A penetração da fé cristã nas cidades do Império Romano e a conversão das massas a uma religião monoteísta puseram em xeque o caráter divino da autoridade imperial e o panteão de deuses romanos. Condenados à clandestinidade, os cristãos de Roma reuniam-se em catacumbas secretamente e acabaram perseguidos pelo Estado.
     O auge da perseguição aos cristãos ocorreu no tempo do imperador Diocleciano, no começo do século IV. Quatro éditos imperiais proibiram os ritos cristãos e deram ordem de prisão aos líderes religiosos. A perseguição se intensificou a ponto de ordenar-se que todos os cristãos do Império deviam prestar culto aos deuses imperiais, sob a pena de morte.
     Não raro os cristãos eram presos e submetidos a torturas atrozes para renegar a fé cristã. Em alguns casos eram crucificados, em outros eram lançados nas arenas circenses, como a do Coliseu, em Roma, onde acabavam devorados por tigres e leões famintos. A proibição do culto cristão se manteve até o reinado de Constantino, que, convertido ao cristianismo, decretou o Édito de Milão, em 313 d.C., concedendo liberdade de culto aos cristãos. Mas foi somente com Teodósio, em 380 d.C., que o cristianismo se tornou a religião oficial do Império.

Gladiadores, feras e mártires na Roma imperial.
     Espetáculo violento e sanguinário, a luta de gladiadores tornou-se, no século I a.C., uma vantagem das autoridades romanas em busca de apoio político. O abuso desse expediente levou o Senado a promulgar, em 63 a.C., uma lei anulando a eleição de qualquer candidato que houvesse financiado combates de gladiadores nos dois anos anteriores à votação. A lei não pegou. César revestiu o espetáculo de grande luxo, e os imperadores que lhe sucederam transformaram o combate de gladiadores numa instituição.
     Com os decretos de Augusto, os jogos de gladiadores se tornaram oficiais e obrigatórios, como os do
teatro e do circo. Transformado em um espetáculo imperial, os combates ganharam edifícios imponentes para sua realização. No período de César, as lutas ocorriam em arenas de madeira. Augusto mandou erguê-las em pedra e o novo monumento passou a ser chamado anfiteatro.
     O primeiro anfiteatro permanente foi edificado em Roma, ao sul do Campo de Marte, e esteve em atividade entre 29 a.C. e 64 d.C.
     Os imperadores da dinastia Flaviana decidiram substituí-lo no ano 80 d.C. por outro semelhante, mas de planta maior: o Coliseu. O monumento tinha capacidade para 45 mil espectadores sentados e 5 mil em pé. Na inauguração do estádio, foi promovido um combate bizarro entre um elefante e vários leões (em algumas versões fala-se em cinco elefantes contra 200 leões). O resultado foi o massacre dos paquidermes, para delírio da multidão. Mas o grande espetáculo do Coliseu era o combate entre gladiadores, recrutados entre os escravos e pessoas pobres. Funcionários do Estado agiam como empresários, que também faziam um estoque de feras para os combates: leões, tigres, panteras, leopardos. Muitos cristãos parecem ter sido martirizados no Coliseu, lançados às feras para deleite do público.
     Apesar de haver polêmica sobre se o martírio de cristãos ocorreu no Coliseu ou em outra arena romana, o papa Bento XIV, no século XVII d.C., consagrou o estádio à Paixão de Cristo, declarando o Coliseu um lugar sagrado do cristianismo.

As termas romanas.
     "Além dos fervores e das delícias do calendário religioso, havia outros prazeres que nada tinham de sagrado e só eram encontrados na cidade; faziam parte das vantagens (commoda) da vida urbana e eram proporcionados pelo evergetismo. Tais prazeres consistiam nos banhos públicos e nos espetáculos (teatro, corridas de carros no Circo, lutas de gladiadores ou de caçadores de feras na arena do anfiteatro ou, em terra grega, no teatro). [...] Homens livres, escravos, mulheres, crianças, todo mundo tinha acesso aos espetáculos e aos banhos, inclusive os estrangeiros; vinha gente de longe para ver os gladiadores numa cidade. A melhor parte da vida privada transcorria em estabelecimentos públicos.
     O banho não era uma prática de higiene, e sim um prazer complexo, como a praia entre nós. Os pensadores e os cristãos recusavam tal prazer; não tinham a fraqueza de ser limpos e só se banhavam uma ou duas vezes por mês; a barba suja de um filósofo constituía prova de austeridade, da qual ele se orgulhava. Não havia casa de rico (domus) em que um banho não ocupasse várias salas especialmente arranjadas, com o aquecimento instalado sob o piso; não havia cidade sem pelo menos um banho público e, se necessário, um aqueduto para alimentá-lo e alimentar as fontes públicas [...].
     Por alguns cêntimos, os pobres passavam horas num ambiente luxuoso que constituía uma homenagem das autoridades - imperador ou notáveis. Além das complicadas instalações de banhos frios e quentes, os pobres encontravam passeios e campos de esporte ou de jogo (o banho greco-romano era também um ginásio e, em terra grega, conservava tal nome). Os sexos eram separados, ao menos como regra geral. As escavações de Olímpia permitem acompanhar a evolução desses estabelecimentos por mais de sete séculos; a princípio modestos edifícios funcionais em que se encontravam uma piscina fria, banheiras ordinárias para banhos quentes e um banho de vapor, as "termas" acabaram tornando-se estabelecimentos de prazer [...]. A grande novidade [...] foi o aquecimento do subsolo e até das paredes: já não bastava aquecer a água das banheiras e de uma piscina; proporcionava-se à multidão um local fechado e quente. Nessa época em que, não importava a intensidade do frio, mal havia braseiros e as pessoas ficavam em casa tão agasalhadas como na rua, os banhos eram o lugar aonde se ia em busca de calor. Nas termas de Caracala, isso levará a uma 'climatização' do prédio [...]. Segunda evolução: do edifício funcional ao palácio de sonho, no qual esculturas, mosaicos, pinturas, arquiteturas suntuosas oferecem a todos o esplendor de um ambiente real. Nessa vida de praia artificial, o maior prazer era o de estar em multidão, gritar, encontrar pessoas, escutar as conversas, saber de casos curiosos que seriam objeto de anedotas e exibir-se.”
(ARIES, Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada: do Império Romano ao ano mil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.)

Famílias nada tradicionais.
     “Em Roma existiam três estruturas distintas: a família nuclear, a tríade pai-mãe-filho; a família ampliada - várias gerações que coabitavam sob a autoridade do patriarca; e, finalmente, a família múltipla, que congregava pessoas e outras famílias nucleares unidas por contratos de casamento.
     Nas classes médias e populares as famílias eram muito mais estáveis do que na aristocracia. Nas inscrições funerárias há elogios frequentes às mulheres que viveram em paz com seus maridos durante 20, 30, até 60 anos. Mas também existiram famílias reconstituídas. A morte de um dos cônjuges levava o sobrevivente a assumir uma nova união. Alguns documentos mencionam mulheres que foram casadas várias vezes. Já nas classes dominantes, o casamento era equivalente a um acordo político. [...] Muitos dos homens (e das mulheres) influentes de Roma tiveram várias uniões. Sylla, Pompeu e Antônio esposaram cada um cinco mulheres; os imperadores Calígula e Cláudio se casaram cada um quatro vezes. Entre as mulheres, o recorde parece pertencer a Vistilia, mãe do grande general da época de Nero, Corbulão: ela teve sete filhos de sete maridos em um período de 20 anos. [...]
     As crianças eram as que mais sofriam com as sucessivas uniões de seus pais. [...] As madrastas deviam garantir a educação de seus enteados. [...] A irmã do imperador Augusto, Otávia, cuidou ao mesmo tempo de seus próprios filhos e dos que seu marido Antônio teve de outras uniões.
     O concubinato era uma forma de casamento inferior entre uma mulher livre que vivia com um homem sem ser sua esposa. [...] Outra forma de união, o contubernium ou 'coabitação', ocorria quando um dos membros era de origem servil.”
(SALLES, Catherine. Famílias nada tradicionais. História Viva. n. 59. set. 2008.)

FONTE:
História, ensino médio. Organizadores: Fausto Henrique Gomes Nogueira, Marcos Alexandre Capellari. - 1. ed. - São Paulo: Edições SM,2010. - (Coleção ser protagonista)
Conexões com a História / Alexandre Alves, Letícia Fagundes de Oliveira. - 1.ed. - São Paulo. Moderna, 2010.
História: das cavernas ao terceiro Milênio /Patrícia Ramos Braick. Myriam Becho Mata. 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.
História: das sociedades sem Estado às monarquias absolutistas, volume 1 /Ronaldo Vainfas... [et al.] - São Paulo: Saraiva, 2010.

FILME:
Spartacus
Em um a Roma repleta de intrigas políticas, guerra civis entre aristocratas e províncias, e lutas de arena, a expansão do Império é vital. Para isso, vilas são destruídas e mulheres, crianças e homens aprisionados e transformados em escravos.
Mas para Spartacus, que aprendeu a lutar guerreando contra os romanos, escapar da escravidão e libertar seu povo vale muito mais que a honra de morrer como um gladiador.
Direção: Robert Dornhelm
Ano: 2004
Áudio: Português/Inglês
Legenda: Anexa ao RAR (PT-BR)
Duração: 176 minutos
Tamanho: 872 MB



 Átila, O Huno
Dois mundos se confrontam e, com eles, os dois homens que personificam os valores e a essência desses mundos. Átila, Rei dos Hunos (Gerard Butler) é um idealista que vê mais no seu povo do que ele próprio. Ao passo que a felicidade dos hunos reside na pilhagem e extorsão das nações vizinhas, Átila pretende mais, considerando a possibilidade de um império e uma nova ordem mundial. O general romano, Flavius Aetius (Powers Boothe), personifica o melhor e o pior de Roma nos últimos anos de sua existência. Sua motivação provém de um objetivo primordial: é imperativo que Roma continue dominando o mundo. Duas perspectivas diferentes do destino, defendidas pelos dois homens mais poderosos do século.
Direção: Dick Lowry
Ano: 2001
Áudio: Português/Inglês
Legenda: Anexa ao RAR (PT-BR)
Duração: 170 minutos
Tamanho: 982 MB

Gladiador
O ano é 180 e o general romano Máximo (Russel Crowe), servindo ao seu imperador Marco Aurélio (Richard Harris), prepara seu exército para impedir a invasão dos bárbaros germânicos. Durante o combate, Máximo fica sabendo que Marco Aurélio, já velho e ciente de sua morte, quer lhe passar o comando do Império Romano. A trama onde Cômodo (Joaquin Phoenix), filho do imperador, mata o pai, assumindo o comando do Império, não é historicamente verídica. Na verdade, Cômodo assumiu quando seu pai morreu afetado por uma peste, adquirida durante uma nova campanha no Danúbio.
Enquanto Cômodo assume o trono, Máximo que escapa da morte torna-se escravo e gladiador, travando batalhas sangrentas no Coliseu, a nova forma de divertimento dos romanos. Máximo, disposto a vingar o assassinato de sua mulher e de seu filho, sabe que é preciso triunfar para ganhar a confiança da plateia. Acumulando cadáveres nas arenas o gladiador luta por uma causa pessoal, de forma quase que solitária e leva benefícios ao povo, submetido pela política do "pão e circo".
"Nesta vida ou na próxima eu terei minha vingança". Máximo sabe que o controle da multidão será vital para que possa arquitetar sua vingança, que culmina em um combate com o próprio Cômodo.
Direção: Ridley Scott
Ano: 2000
Áudio: Português
Duração: 170 minutos
Tamanho: 614 MB
  
Hannibal - O Pior Pesadelo de Roma
200 anos antes do nascimento de Cristo, Roma se torna a nova potência do mundo antigo. Ela acha que é invencível, mas um homem está destinado a mudar isso. Um homem guiado pelo seu juramento de vingar as injustiças infligidas ao seu lar. Hannibal explora o homem atrás do mito, revelando o que levou um gênio de 26 anos de idade a executar o mais audacioso plano militar de todos os tempos. Com 40 mil soldados e 37 elefantes, ele marchou 1.500 milhas para desafiar o seu inimigo em seu próprio território.
 Direção: Edward Bazalgette
Ano: 2006
Áudio: Inglês/Legendado
Duração: 89 minutos
Tamanho: 689MB



DOCUMENTARIOS:

Roma Antiga Revelada
Série exibida no Brasil pelo Discovery Channel Brasil, produzida originalmente pela Atlantic para o National Geographic. Você conhecerá personagens e lugares representativos da Antiguidade Clássica no Império Romano sob uma luz completamente nova: por meio de informações baseadas nas recentes pesquisas e descobertas arqueológicas, somadas à sofisticada tecnologia do século XXI para a reconstrução computadorizada do momento histórico. Indo além dos relatos oficiais de imperadores e da elite romana, as fontes renomadas consultadas na série investigam quais eram as experiências e vivências das ‘classes trabalhadoras’ do Império, colocando em xeque a ideia tradicional que temos da Roma Antiga.

Clique no nome do episódio para baixar
Um estádio para 50 mil pessoas. Um milagre da arquitetura moderna, de dois mil anos de idade. Nele, astros surgiram e vidas se acabaram. Nele o esplendor de Roma foi revelado – mas também a sua maldade. A partir das evidências arqueológicas e dos poucos testemunhos visuais que foram preservados, reconstruímos o dia em que o Coliseu abriu seus portões pela primeira vez para a apresentação de combates entre animais, execuções, e um duelo legendário. O Coliseu era a materialização de Roma – e com ele nasceu a indústria do entretenimento.
Esta é a história de um desastre como nenhum outro. Quando o Vesúvio entrou em erupção, 7 milhões de toneladas de detritos choveram sobre a cidade de Pompéia, matando mais de mil pessoas e isolando o que um dia foi uma bela cidade por muito tempo: graças a isso, Pompéia foi preservada e protegida. A redescoberta de Pompéia significou a abertura de um portal para a Antiguidade. Neste episódio contaremos a história de pessoas comuns que lá viviam e que foram surpreendidas pelo desastre.
Esta é a história do homem que transformou Roma no inferno. Ele herdou um vasto império, uma fortuna inimaginável e a adoração de seu povo. E jogou tudo fora. Ele massacrou inimigos e amigos próximos. Segundo textos da época, seu reinado foi uma derrocada gradativa para a paranoia, perversão, e loucura total. Por meio das descobertas arqueológicas mais recentes e de um aprofundado relatório de psiquiatras forenses, podemos restaurar um retrato novo dos dias mais negros de Roma, e da mente mais feroz que a governou: Calígula.
Roma era o maior império, a mais poderosa força militar e a mais avançada civilização na face da Terra. Embora tenham restado apenas vestígios dessa civilização e a maior parte das ruínas continue soterrada sob as modernas ruas da cidade, a história dos romanos da Antiguidade ainda está lá, escrita em pedra. Com as novas descobertas e os novos métodos científicos, fragmentos até agora indecifráveis são colocados juntos, completando o quebra-cabeça. À época primordial, os habitantes da região tomaram posse de um pântano e o aterraram, criaram o concreto e o aperfeiçoaram – o material de construção mais versátil conhecido até hoje. Escavaram milhares de toneladas de mármore, e as utilizaram para construir a capital imperial, durante séculos de inovação, resistência e ambição.
Durante 500 anos, Roma lutou, reinou e enriqueceu. Ainda hoje historiadores e estudiosos tentam entender como. Nas ruínas do seu porto e nas evidências que seu povo nos legou jazem os segredos do sucesso dos antigos romanos. Da inovação, diplomacia e um extremo talento para a organização, à brutalidade, ganância sem limites e ambição desenfreada, constrói-se a ascenção e declínio do Império – este é o milagre romano: cinco séculos do maior poder que já se viu na Terra
Era o final da República Romana e o nascimento da Roma Imperial. Um tempo de tirania e traições, de grandes gestos públicos e acordos secretos. Em 44 AC, Júlio César foi derrubado pelos seus colegas do Senado. Aqui será revelado como cada ação de César levou-o mais perto da morte. E como seu talento, seu ego e suas vontades levaram Roma à glória – e ao desastre. Ele foi chamado de herói e de vilão. Assim também os que assassinaram.
Esta é a verdadeira história do poder que fez Roma. A força mais disciplinada e mortal do mundo antigo, a temida Legião. Embora a História lembre os nomes de imperadores e generais, foram esses homens “comuns” que construíram e mantiveram o Império. Eles treinavam, lutavam, combatiam e marcharam pelas estradas que eles mesmos haviam construído. Utilizando registros antigos, pesquisas científicas e novas descobertas arqueológicas, conseguimos reproduzir suas jornadas enquanto invasores, matadores, pacificadores e colonizadores das remotas fronteiras do Império. Estes são os homens que compunham a tremenda máquina militar romana.
O cristianismo, teoricamente, jamais poderia ter sobrevivido – mas esta é uma das mais estranhas vitórias de toda a História. Estudando fontes da antiguidade e mergulhando fundo no passado da cidade, veremos como os cristãos se infiltraram, resistiram, e conquistaram Roma. E descobriremos como, desde os primeiros mártires até o estabelecimento do primeiro império cristão, eles usaram o próprio poder de Roma para espalhar sua mensagem. O Império romano caiu há muito, muito tempo – mas de suas ruínas surgiram as igrejas.

2 comentários:

  1. Professor Tonhão. Que saudades das suas aulas.
    Não sei se o senhor se lembra de mim, mas meu nome é Rodolfo, fui seu aluno do 3 colegial no Drummond/Lorena em 2007. Excelente Blog!
    Terminando o curso que estou me graduando agora, devo fazer História como segunda graduação!
    Continue com essas boas matérias!

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