“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Lutas.doc

    Lutas.doc faz uma reflexão profunda sobre a história da sociedade brasileira e o papel da violência na formação do povo. Dirigido por Luiz Bolognesi e Daniel Augusto, o documentário tem um ritmo dinâmico e utiliza recursos de animação, trechos de filmes, informação, entrevistas e análise. Os cinco episódios combinam densidade de reflexão com linguagem acessível, uma atração especial para o público jovem.
     Grandes pensadores brasileiros, personalidades da política e da cultura do país, além de outros cidadãos, abordam várias facetas da violência no Brasil. Os depoimentos são intercalados por desenho animado. Essa animação é fruto do trabalho diário de uma equipe de 60 profissionais e levou três anos para ser produzido. 
     Com um olhar crítico e ousado, duas dezenas de entrevistados passam em revista a história da sociedade brasileira. Entre eles, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, a ex-senadora Marina Silva, o escritor Ferréz, índios Guarani-Kaiowá, o jornalista Gilberto Dimenstein, o líder do MST João Pedro Stédile, os historiadores John Monteiro, Laura de Mello e Souza, Pedro Puntoni e Leandro Karnal, o sociólogo Luis Mir e a filósofa Márcia Tiburi, o psicanalista Contardo Calligaris, Soninha Francine; a professora de filosofia Olgária Matos, a professora Esther Hamburger, jornalista e ex-moradora de rua Esmeralda Oritiza, professora de comunicação Esther Hamburger, o pensador José Júnior, do AffroReggae. 
     Os diretores da série propõem um grande debate e tentam contar a história do Brasil que não se aprende nas escolas.

Direção: Luiz Bolognesi e Daniel Augusto
Ano: 2010
Áudio: Português
Duração: +- 25 minutos/cada Episódio
     O primeiro episódio, "Guerra sem fim", com demolidora argumentação, desmonta-se a imagem do Brasil como sociedade pacífica e do brasileiro como gentil por natureza. Mostra a história da violência no Brasil, a presença da luta desde antes da chegada dos colonizadores, ou seja, é uma constante na história nacional. Mesmo antes da chegada dos europeus, as nações indígenas tinham a guerra no centro de suas culturas. São enfocados conflitos pouco conhecidos, massacres, e revistos fatos históricos à luz de um olhar crítico, que questiona a história oficial com argumentos e insights.

     O segundo episódio, "Recursos humanos", volta-se para a escravidão e revela as cicatrizes sociais com suas tensões, ambiguidades e a dificuldade de passar das palavras a atos de transformação. Enfoca como era a vida dos escravos no Brasil e como eles foram tratados pelas outras classes sociais. Os escravos foram libertados no país em 1888. Entretanto, "Nunca houve uma preparação intelectual dos escravos no Brasil, como aconteceu nos Estados Unidos com a Guerra Civil", observa o historiador Eduardo Gianetti. "Levamos mais de um século para integrar escravos na força de trabalho, mas não devemos ser orgulhosos, devemos ter vergonha." 

     O terceiro episódio, "Fábrica de verdades", mostra como a mídia, especialmente a televisão, nega a violência e a brutalidade das relações sociais. "Se você imagina que são as novelas que fazem a educação do brasileiro... É uma inversão de princípio e de realidade. Impressionante", diz a professora de filosofia, Olgária Matos. "Estamos em um país em que as pessoas não são alfabetizadas", diz o escritor Ferrez. Da mesma opinião, o jornalista Gilberto Dimenstein constata: “Em São Paulo, se você pega as pessoas formadas no ensino médio, 5% apenas têm conhecimento adequado para ler e escrever. Lamento, eu não consigo ver violência maior do que uma pessoa chegar ao final da sua adolescência e não saber ler nem escrever. Não consigo ver quantas violências são maiores do que essa. Mas ninguém liga. E não causa comoção, não causa nenhum escândalo, não causa uma indignação nacional". 

     O quarto episódio, "Heroína sem estátua", investiga a discriminação silenciosa das mulheres. A luta das mulheres pela igualdade de direitos na sociedade brasileira. Na avaliação do historiador Pedro Puntoni, toda revolução histórica é marcada por conflitos e, no caso da questão feminina, o papel da rebelião foi fundamental nesse processo. "A rebeldia transforma a história", analisa. Ele conclui que, na política, o brasileiro ainda é muito conservador e a visão machista perdura nas grandes decisões. Mesmo com todo o avanço das mulheres, a série constata que apenas 9% das prefeituras brasileiras são ocupadas por elas. Outro índice que ainda é um diferencial são os salários: 40% menor do que os dos homens que ocupam a mesma função. Uma das representantes da mulher na política, a ex-senadora Marina Silva reconhece o rápido aprendizado das mulheres com os homens. E garante que "se os homens não aprenderem com elas terão um grande prejuízo". 

     O quinto episódio, "O que vem por aí", é uma conversa sobre o futuro polarizada entre quem acha que o Brasil está em guerra civil e quem acredita que o crescimento econômico e político pode mudar a situação.

Saiba Mais: Links 
Mulheres Invisíveis (2011)

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