“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 28 de julho de 2012

Guerra Sem Cortes

Por meio do plano-sequência, diretores de cinema aproximam o espectador de grandes dramas históricos.

     A obra de arte tem muitas vezes a capacidade de transportar as pessoas numa autêntica viagem que parece suspender o tempo e cancelar o espaço ao seu redor. Se isto é verdade para a leitura de uma obra literária ou a audição de um concerto de música, confirma-se com mais vigor ainda quando assistimos a um filme. A câmera substitui o nosso olhar e nos faz encontrar pessoas, percorrer lugares, viver situações. Nós vemos e vivemos o que a câmera vê e filma. A edição recorta e cola sequências, produzindo o efeito final da sucessão das cenas. O espectador parece viver dentro da tela.
     O efeito, contudo, é impressionante quando o cinema se serve de uma técnica que assemelha ainda mais a arte à vida: o plano-sequência, isto é, a filmagem direta e sem cortes de uma sequência de cenas. Uma das mais recentes produções cinematográficas que recorrem a esta técnica é o espetacular "Arca Russa", do diretor Alexandr Sokurov, uma verdadeira viagem pelos salões do museu Hermitage de São Petersburgo, que corresponde também a uma viagem pela história russa, através de três séculos: tudo em um único plano-sequência, de cerca de 90 minutos.
     Entre muitos filmes que lançam mão do plano-sequência, há dois que o fazem para retratar o drama da guerra e o desastre que ela provoca, mesmo quando a batalha foi vitoriosa. O primeiro é um filme de 2007, "Desejoe Reparação" ("Atonement", na versão original), dirigido pelo britânico Joe Wright. Vencedor do Globo de Ouro de melhor filme dramático em 2008, o longa é uma adaptação do livro homônimo do também britânico Ian Mc Ewan, que discute sentimentos de amor, culpa e arrependimento, tendo como pano de fundo a sociedade inglesa da primeira metade do século XX.
     O ponto alto da película é um impressionante plano-sequência de cerca de quatro minutos, que mostra o protagonista, Robbie, e dois companheiros de armas na praia francesa de Dunquerque, em 1940, durante a retirada das tropas inglesas que foram para o continente lutar contra o avanço nazista sobre Paris, no começo da Segunda Guerra Mundial. A sequência se refere a um momento daquela que foi chamada de Operação Dínamo, e que consistiu na evacuação do porto de Dunquerque, e das praias ao redor da cidade, de milhares de soldados da Força Expedicionária britânica e de países aliados (entre final de maio e início de junho, sob intenso bombardeio inimigo, foram evacuados mais de 300 mil homens). A ofensiva alemã não dava mais chances de luta às tropas aliadas, que, encurraladas em poucos quilômetros de litoral, só podiam ser resgatadas pelo mar.
     O filme, no plano-sequência em questão, mostra Robbie em sua peregrinação pela praia, em busca de uma saída, e assim somos apresentados ao drama de milhares de soldados acuados naquele pequeno espaço vital, como ele. A câmera acompanha o protagonista e seus companheiros esbarrando com esta situação, aparentemente sem salvação. Há quem chore, quem brigue, quem beba e quem tente eliminar todas as potenciais presas dos nazistas, como cavalos e veículos. Um grupo de soldados, num coreto, entoa um hino religioso, talvez numa tentativa de transmitir força e esperança ao resto das tropas. Ao redor, somente máquinas de guerra inservíveis, areia, fumaça e até uma espectral roda gigante, paradoxal símbolo de uma diversão agora impossível. O resultado é um sugestivo exercício cinematográfico, aliado a mais uma exposição do que é o homem diante de uma condição extremada como a guerra.
     Ainda restando no âmbito da cinematografia britânica, outro plano-sequência memorável sobre um evento bélico se encontra quase no final do filme "Henrique V", dirigido por Kenneth Branagh. Realizado em 1989, é uma adaptação para o cinema da homônima peça de Shakespeare. O longa reconstrói a jornada do rei inglês, interpretado pelo próprio Branagh, em sua luta contra os franceses, durante a Guerra dos Cem Anos. A sequência se refere aos momentos sucessivos à batalha de Azincourt, no norte da França, travada em 25 de outubro de 1415, dia de São Crispim, entre o exército inglês (15 mil homens) e as muito mais numerosas tropas francesas (cerca de 50 mil). Shakespeare (Branagh também) põe na boca de Henrique V um breve discurso na véspera da batalha: "Aquele que sobreviver esse dia e chegar à velhice, a cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: "Amanhã é São Crispim". E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: "Recebi estas feridas no dia de São Crispim." O confronto se deu num terreno transformado em atoleiro pelas fortes chuvas, mas onde a habilidade dos arqueiros britânicos se sobressaiu, permitindo a derrota do exército inimigo, que sofreu perdas enormes.
     A vitória inglesa é celebrada através de um canto religioso, o “Non Nobis, Domine” ("Não a nós, Senhor"), que atribui somente a Deus a glória pelos sucessos humanos, nesta circunstância o triunfo em batalha. Entoada por um único soldado no começo da sequência, a música é cantada por cada vez mais vozes, transformando-se num crescendo ao longo do plano-sequência, durante o qual o espectador acompanha Henrique V. O rei, embora esgotado pela luta, ainda encontra forças para carregar nos ombros um jovem soldado morto e atravessar todo o campo de batalha, em meio a lama, sangue, feridos e cadáveres, lanças e flechas, até conseguir depor o corpo perto da bandeira inglesa. Como um triste cortejo, soldados exaustos acompanham os passos do rei, numa mistura de sentimentos, onde ao orgulho pela vitória se sobrepõe a consciência de que se tratou de um verdadeiro milagre divino e que mesmo assim custou demasiadas vidas humanas. Aqui o espectador também é transformado em mais um soldado do exército inglês, participando dos momentos finais daquela histórica batalha.
 Arca Russa (Russian Ark 2002)
Um museu como um ser vivo, uma entidade que respira e tem personalidade própria. Sokúrov empresta alma ao colossal palacete do Hermitage, em São Petersburgo, um dos maiores museus do mundo. Arca Russa foi filmado em um único plano-sequência, sem cortes, que dura 97 minutos e atravessa 35 salas do museu, transformando a tela de cinema em um quadro vivo por onde desfilam personagens importantes da história da Rússia: Pedro, o Grande; Catarina, a Grande; Catarina II, Nicolau e Alexandra.
Simbiose perfeita de cinema, história e artes plásticas, Arca Russa é uma experiência visual única e inesquecível.
Direção: Aleksandr Sokurov
Ano: 2002
Áudio: Russo/legendado
Duração: 95 min
Tamanho: 292 MB
Henrique V (Henry V 1989)
Esta é uma das melhores transposições para o cinema de uma das obras-primas do maior escritor de língua inglesa de todos os tempos, William Shakespeare, realizada por um especialista no assunto, o diretor e ator Kenneth Branagh. Trata-se da história de Henrique V (Branagh), da Inglaterra que entra em guerra contra a França, comandando um exército com menor número de soldados. Indicado ao Oscar de Melhor Diretor e Ator e vencedor do Oscar® de Melhor Figurino.
Direção: Kenneth Branagh
Ano: 1989
Áudio: Inglês/legendado
Duração: 132 min
Tamanho: 392 MB




Desejo e Reparação (Atonement 2007) 
Em 1935, no dia mais quente do ano na Inglaterra, Briony Talles (Romola Garai) e sua família se reúnem num fim de semana na mansão familiar. O momento político é de tensão, por conta da 2ª Guerra Mundial. Em meio ao calor opressivo emergem antigos ressentimentos familiares. Cinco anos antes, Briony, então aos 13 anos, usa sua imaginação de escritora principiante para acusar Robbie Turner (James McAvoy), o filho do caseiro e amante da sua irmã mais velha Cecília (Keira Knightley), de um crime que ele não cometeu. A acusação na época destruiu o amor da irmã e alterou de forma dramática várias vidas.
Direção: Joe Wright
Ano: 2007
Áudio: Português
Duração: 123 min
Tamanho: 432 MB

domingo, 22 de julho de 2012

Sociedade Da Imagem - O Mundo Que Tudo Vê

Em uma sociedade dominada pelas imagens, ficção e realidade se misturam, e informação se confunde com propaganda.
Por Rodrigo Cruz, jornalista.
     O romance 1984 do escritor inglês George Orwell, publicado pela primeira vez em 1949 e adaptado para o cinema na década de 1980, retrata um futuro nada improvável, no qual a humanidade vive sob um regime totalitário sustentado por um enorme aparato midiático. Os indivíduos circulam por uma cidade impregnada de rádios, cartazes e "teletelas" (espécie de televisão que permite a população assistir determinadas programações e ao governo observar 24 horas por dia cada passo dos cidadãos por meio do personagem chamado "Big Brother") que garantem um constante fluxo de informação alienante controlada pelo Estado. O livro é considerado pioneiro até hoje por antecipar o que seria (ou o que pode vir a ser) a chamada "sociedade das imagens": excesso de informação, vigilância e controle absoluto sobre a vida das pessoas.
     Orwell é tão visionário que mesmo a grande mídia se apropriou de sua obra para batizar um de seus produtos mais rentáveis da última década, o reality show Big Brother (ou "Grande Irmão", em referência ao personagem de 1984 cujo rosto aparecia nas teletelas para relembrar os cidadãos da vigilância do Estado). Só que diferente da obra de Orwell, na atração televisiva criada pela rede de TV holandesa Endemol e exibida no Brasil pela Rede Globo, o espectador também é convidado a ser o "grande irmão" que tudo vê. Cabe à audiência observar 24 horas por dia o cotidiano dos participantes anônimos, decidir quem deixa o programa a cada semana e finalmente votar naquele que merece o prêmio final. Verdade? Ficção? Ou apenas uma ironia produzida pela sociedade das imagens?
     O escritor francês Guy Debord, em seu livro "A sociedade do espetáculo", resumiu esse fenômeno típico dos nossos tempos em uma única sentença. Para ele, "o espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se toma imagem". O jornalista e professor da PUC-SP Silvio Mieli, autor de diversos livros sobre o tema, não apenas concorda com Debord como amplia essa reflexão. "Pensemos na indústria do audiovisual. No cinema, na televisão, nos games e subprodutos. Será que existe algum domínio onde o capital se acumulou de tal modo, como na esfera do entretenimento audiovisual? E se acumulou tão profundamente que passou a viver da espetacularização dos aspectos mais degradantes e despotencializadores da realidade? É uma indústria cujo capital transformou-se na pura imagem espetacular", afirma.
     Mieli cita a constante exposição da vida pessoal das celebridades como fenômeno exemplar da "sociedade das imagens". Seja na perseguição intransigente dos paparazzi aos astros de Hollywood, no polêmico vazamento de fotos íntimas de atores e atrizes na internet ou nas inocentes entrevistas concedidas aos programas de fofoca, a cobertura dos meios de comunicação de massa impõe a midiatização de todas as esferas da vida humana - e não só a das celebridades. "O perigo é quando os valores de um sociedade inteira passam pelo mesmo crivo e todos precisam "dar a cara a bater" num facebook da vida", questiona Silvio. De fato, hoje, com a popularização de dispositivos digitais como celulares, smartphones, Iphones, Ipads, todos podem ser, em certa medida, observadores e observados, mesmo que isso signifique a superexposição da própria imagem.

E a realidade?
     Para o teórico estadunidense Fredrich Jameson, a "sociedade das imagens" é um fenômeno inerente ao que ele chama "capitalismo da mídia". Ele acredita que na atual etapa de acumulação do capital, objetos de todos os tipos (estrelas de cinema, automóveis, padrões de comportamento e sentimentos) foram transformados em mercadorias que têm como único objetivo suscitar o consumo das massas. Para Jameson, assim como a industrialização e a urbanização mudaram o ritmo, os costumes e a própria subjetividade das pessoas no século 19, as linguagens midiáticas alteraram de forma definitiva o modo de
vida do homem contemporâneo. O próprio reconhecimento de um público, multidão ou audiência de massa estimulou uma resposta mais concreta do indivíduo à sociedade, assim como o impulso para definir, fixar e representar –instantes isolados da vida diante das inúmeras distrações do mundo moderno. Hoje, no entanto, o excesso de imagens publicitárias, fotografias e vídeos que perpassam o cotidiano dos habitantes das grandes cidades promoveram uma fusão entre o imaginário da população e o universo sedutor das mercadorias. A cultura se transformou no próprio motor do capitalismo.
     Em sua obra, Jameson atenta para o fato de que esse fluxo ininterrupto de representações pode inclusive produzir uma "falsa realidade" que substitui a "vida real". O professor Silvio Mieli, no entanto, discorda dessa ideia. Ele acredita que, embora possam criar novas realidades, as imagens também enriquecem a experiência humana. "Dentro desse processo construtivista de articulação da nossa subjetividade, a pintura, fotografia e o cinema não só ajudaram a dar significado e sentido às várias realidades que nos cercam, como criaram outras, que não existiam antes do surgimento da tecnologia digital", explica. Para ele, as imagens produzidas pelo espaço midiático são absolutamente reais, com a diferença de que se tratam de "realidades pobres, despotencializadas, aviltadas, capitalizadas até a raiz", completa.

País Sequestrado
     Nessa sociedade em que o testemunho da realidade e a ficção pertencem ao mesmo regime de sentido
(a imagem), é natural que as fronteiras entre o real e o fictício sejam borradas. No caso do Brasil, onde o meio de comunicação mais abrangente é a televisão, essa tendência pode ser ainda maior. De acordo com a pesquisa "Hábitos de Informação e Formação de Opinião da População Brasileira", encomendada pelo Governo Federal em 2010 e realizada em todo o país, a TV e o rádio são os meios de comunicação mais utilizados pela população. Cerca de 96,6% dos entrevistados veem televisão e 80,3 % ouvem radio diariamente. Na televisão, os programas mais vistos são os telejornais e as novelas. E a emissora mais assistida é a Rede Globo, que detém 69,8% da preferência dos entrevistados.
     Fundada em 1965, a Rede Globo possui ampla cobertura nacional. Suas transmissões foram expandidas para 98% dos municípios do país na década de 1990, atingindo 17,9 milhões de residências em comparação com praticamente zero em meados da década de 1960. Tamanha abrangência qualquer programa exibido pela emissora carioca extremamente influente, especialmente as telenovelas que detêm a preferência do público.
     Para Silvio Mieli, o domínio do chamado "padrão Globo de qualidade" no imaginário dos brasileiros possui um lado perverso. "Temos uma imensa dificuldade de olhar para as nossas realidades sem o filtro do recorte global: o mesmo enquadramento, as mesmas cores, a mesma edição, o mesmo sotaque, acompanhado da trilha sonora da novela. Tudo isso automatizou a nossa percepção".
     Para ele, o "sequestro cultural" promovido pela emissora do "plin plin" é problemático por dois motivos. Primeiro porque a qualidade das produções se define pelo "casamento" de uma sexualização precoce com a comercialização de todas as esferas da vida. O segundo é que essas produções de qualidade duvidosa se tomaram hegemônicas e abafaram qualquer outra possibilidade cultural do país. "É uma condição muito autoritária que influi em todas as dimensões da nossa vida: no comportamento, na interpretação que temos da nossa própria cultura, e até nos patrocínios de outras produções culturais. Enquanto não nos livrarmos dessa lógica vai ser difícil inventarmos uma nova estética", completa.

Sedução na infância
     Um dos problemas mais graves da sociedade centrada nas imagens é o contato permanente da população com as imagens publicitárias, que hoje encontram-se espalhadas por toda a parte. No metrô, no banheiro do shopping ou nos elevadores, somos estimulados diariamente ao consumo desenfreado. Se para os adultos essa exposição exagerada pode ser perigosa, para as crianças ela pode trazer danos irreversíveis. Estudos indicam que as crianças com menos de quatro anos podem ser incapazes de distinguir os anúncios publicitários dos outros programas, enquanto que as crianças até aos 8 anos não estão aptas a determinar a validade da mensagem transmitida. Levantamento feito pelo Instituto Alana e pelo Observatório de Midia indicam que o público infantil foi o principal alvo da publicidade nos 15 dias que antecederam o Dia das Crianças, em outubro de 2011. A pesquisa analisou a programação de 15 canais de TV aberta e paga, durante 15 horas por dia. Em todo o período, as crianças foram alvo de 64% dos comerciais veiculados.
     Em países do norte europeu como a Suécia, a proibição de propagandas dirigidas a crianças e adolescentes já é uma realidade. Já na Inglaterra, a publicidade direcionada às crianças não pode mais incluir produtos de valor muito elevado, para evitar que os filhos venham a exigir dos pais produtos que estejam acima das condições financeiras da família. No Brasil, desde 2001 tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL nº 5921/2011) que tenta proibir a publicidade e propaganda para a venda de produtos infantis. A total falta de apoio ao projeto fez com que muitos setores do movimento pela democratização da comunicação passassem a pautar a regulamentação em vez da proibição da publicidade
infantil. Para o professor Silvio Mieli, é urgente que os governos regulamentem essa questão. "Preservar a ecologia mental das crianças é uma tarefa complicada, porque o discurso publicitário não se limita mais aos espaços publicitários. Ele permeou toda a produção audiovisual. Vender sem trégua é o primeiro mandamento da produção contemporânea de imagens", afirma.

Cidade Sitiada
     A grande quantidade de cartazes publicitários, anúncios, placas, pichações, outdoors e televisores espalhados pelas grandes cidades brasileiras também gera desconforto psíquico para a população, provoca acidentes no trânsito devido ao desvio de atenção dos motoristas e pedestres e escondem parte da arquitetura original das cidades. Esse processo desvaloriza o ambiente urbano e reduz as cidades a simples espaços de promoção do fetiche mercadológico. E os efeitos dessa sobrecarga de informações desnecessárias pode afetar de forma grave a saúde mental da população.
     Uma pesquisa realizada em 2003 pelo Instituto Paulista de Stress, Psicosomática e Psiconeuroimunologia sugere que os estímulos visuais podem causar impactos nas pessoas sem que elas percebam. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores convidaram 30 pessoas para assistir um filme de 52 minutos. O vídeo começa com imagens de parques e ruas tranquilas e depois mostra locais com alta concentração de publicidade, informação e sujeira. Aparentemente, os voluntários ficaram indiferentes ao conteúdo, mas os níveis de cortisol (substância liberada pelo organismo nos primeiros sinais de estresse) e a frequência cardíaca de todos eles aumentou de forma considerável.
     O projeto, "Lei Cidade Limpa", no entanto, é criticado por especialistas como Silvio Mieli. "Impedir que o tecido urbano seja invadido pela publicidade é fundamental. Só que no caso específico de São Paulo a gestão que conduziu a campanha tinha um modelo higienista. Uma ideia abstrata de cidade que, por exemplo, não aceita moradores em situação de rua perambulando e "poluindo" o cenário urbano, só para citar um exemplo. Então é preciso considerar que foi um bom projeto no âmbito de um conjunto de ações desarticuladas, que não contaram com a participação social e que tem como horizonte um modelo absolutamente despolitizado sobre a questão urbana", opina o professor.

"Dar-se a ver"
Diante da indiscutível predominância das imagens na sociedade contemporânea, é natural que o
campo da arte também reflita sobre os caminhos e descaminhos desse paradigma estético. O cinema, talvez a mais moderna entre todas as artes, já apontava para uma possível "falência das palavras" na década de 1950, quando o cineasta italiano Michelangelo Antonioni lançou a famosa trilogia da incomunicabilidade (composta pelos filmes A Aventura, A Noite e O Eclipse). As narrativas, permeadas de silêncio, retratavam o declínio dos valores culturais europeus pautados na oralidade e na escrita diante da emergência assustadora da publicidade e das novas tecnologias da comunicação e dos transportes. Uma década depois, Antonioni retomou ao tema com o clássico Blow-Up. A discussão permanece tão atual que cineastas como Sofia Coppola (Encontros e Desencontros) e Win Wenders (Pina) continuam a questionar constantemente o caráter visual da vida contemporânea.
     Para o professor Silvio Mieli, o século 19 pode ser considerado o século do "Dar-se a ver", ou seja, um tempo no qual a visão prevalece sobre os demais sentidos. Entretanto, ele faz uma observação importante quando o assunto é a "falência total" das linguagens oral e escrita. "Ao mesmo tempo, a tecnologia multimídia contemporânea permite um resgate, uma retomada da linguagem verbal oral e escrita. E, mais do que isso, na prática, a miniaturização e a mobilidade, aliadas ao barateamento dos equipamentos (celulares, câmeras de vídeo), estão facilitando os vários trânsitos entre as linguagens. Diziam que os computadores acabariam com os livros, mas nas livrarias as seções mais entulhadas são as de informática", explica o professor. Ele lembra que o desenhista Millôr Fernandes, falecido há pouco tempo, costumava ironizar a frase que diz que "uma imagem vale mais do que mil palavras". "Diz isso sem palavras!", brincava Millôr, que parecia acreditar mais na convergência de linguagens do que na derrota completa de qualquer uma delas.

Saiba Mais: Filmes
Blow-Up - Depois Daquele Beijo - 1966
Thomas (David Hemmings) é um fotógrafo de moda que não suporta mais o mundo em que vive, no qual jovens mulheres o perseguem para serem fotografadas na esperança de se tornarem grandes modelos. Um dia, ao passar por um parque de Londres, ele vê um casal à distância e resolve fotografá-los. Ao vê-lo Jane (Vanessa Redgrave) corre ao seu encontro, pedindo que lhe entregue os negativos das fotos. Ele se recusa e vai embora, mas ela descobre o endereço de seu estúdio e vai visitá-lo. Lá Jane tenta seduzi-lo e Thomas a engana, entregando outro rolo fotográfico. Ao revelar as fotos, Thomas percebe que pode ter documentado, sem querer, um assassinato.
Direção: Michelangelo Antonioni
Ano: 1966
Áudio: Inglês/legendado
Duração: 106 minutos

Encontros e Desencontros (Lost in Translation)
Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) são dois americanos em Tóquio. Bob é um decadente astro de cinema que está na cidade para filmar um comercial de uísque. E a bela Charlotte acompanha seu marido John (Giovanni Ribisi), um fotógrafo viciado em trabalho. Ambos estão no mesmo hotel, mas não se conhecem. Dividem apenas o tédio das horas que custam a passar. Bob passa quase todo o seu tempo livre no bar do hotel. Enquanto Charlotte fica horas olhando pela janela de seu apartamento. Até que um dia eles se conhecem e um novo mundo se descortina para ambos. De repente, Tóquio parece mais colorida, mais agitada e atraente. E aquelas duas vidas, antes tomadas pelo aborrecimento, ganham novas perspectivas. Nasce entre Bob e Charlotte uma amizade mágica, uma cumplicidade raramente vista, uma nova forma de ver a cidade e a vida.
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2003
Áudio: Inglês/Legendado
Duração: 103 minutos

Pina
Pina é um filme de Wim Wenders, com o Tanztheater Wuppertal, sobre a obra da extraordinária coreógrafa alemã Philippine Bausch, mais conhecida como Pina Bausch (Solingen, 27 de julho de 1940 — Wuppertal, 30 de Junho de 2009). É uma viagem sensual e deslumbrante através das coreografias dançadas no palco e em locais da cidade de Wuppertal – cidade que durante 35 anos foi a casa e o centro de criatividade de Pina Bausch. Wim Wenders encontra a corógrafa Pina Bausch. Neste musical, o cineasta alemão conduz o espectador por uma viagem sensorial no espetáculo de encantamento que é a dança. Acompanhamos as conduções de Pina e o movimento do corpo de dança. Tendo filmado apenas quatro trabalho para o longa - Le Sacre du Printemps, de 1975, Kontakthof, de 1978, Café Muller, de 1978, e Vollmond, de 2006 -, Wenders resolveu seguir com o projeto após a morte de Pina, intercalando as cenas dos espetáculos com entrevistas e depoimentos dos bailarinos da companhia.
Direção: Wim Wenders
Ano: 2011
Áudio: Inglês/legendado
Duração: 100 minutos

1984 - A atualidade do “Grande Irmão” de George Orwell
Em um fictício ano de 1984, no qual o totalitarismo viria a dominar o Mundo inteiro. O Planeta é dividido em três grandes blocos, a Eurásia, a Lestásia e a Oceania, e cada um desses blocos tem basicamente a mesma doutrina ideológica. O Governo controla tudo e o povo vive em um constante estado de alienação, onde são manipulados a acreditar – e pior – a seguir voluntariamente os descabidos preceitos do Partido.
A supressão da liberdade é tão grande que existe a Polícia do Pensamento, a qual punia quem cometia “crimes-ideia” (ideologias diferentes da do Partido), além de filmagens que o Estado fazia das pessoas através de “tele telas” dentro de suas próprias casas. Se não bastasse, o Governo criava a Novilíngua, uma espécie de língua que mantinha apenas uma palavra para expressar um conceito e as outras eram excluídas, juntamente com aquelas que poderiam expressar uma ideia contrária à do sistema dominante. Com isso em um futuro próximo, quase ninguém disporia de recursos linguísticos para formular uma oposição à tal situação. Essa é uma visão pessimista que praticamente não possibilita esperanças.
O protagonista Winston Smith. Ele vive na Oceania, Londres e é funcionário do governo que trabalha para o Ministério da Verdade. Nesse “órgão” as informações antigas são refeitas para criarem uma constante noção de perfeição do Estado e do seu suposto chefe maior: o Big Brother (Grande irmão). Smith, intimamente, não concorda com as atrocidades que o Partido comete, e tenta timidamente se desvencilhar desse poder. Depois de viver um romance com Júlia, uma mulher que pensa como ele, Winston é preso e levado para a tortura (física e mental) na temida sala 101, onde a dor e o medo fazem qualquer homem negar seus ideais e aceitar coniventemente o Grande Irmão.
Direção: Michael Radford
Duração: 113 min.
Ano: 1984
Áudio: Inglês/Legendado

A Sociedade do Espetáculo (La Société du Spectacle)
É um documentário que ressalta o aspecto de espetacularização dos feitos, em qualquer sociedade, seja ela neoliberal ou socialista. O documentário foi rodado em cima de um livro de mesmo nome e também de Guy Debord. “O espetáculo se apresenta, simultaneamente, como representação da própria sociedade. Enquanto parte da sociedade, ela é o foco de toda a visão e de toda consciência. Mas por ser algo separado, ela é, na verdade, o domínio da ilusão e da falsa consciência: a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação”
Direção: Guy Debord
Ano: 1973
Áudio: Francês/legendado
Duração: 87 minutos


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domingo, 15 de julho de 2012

Crack: por uma política mais humana

Por Pedro Vicente Bittencourt
da
Democracia Viva
     Hoje em dia, quando se fala em drogas no Brasil, uma onomatopeia nos vem à cabeça: crack. Poderia ser crack!, com um ponto de exclamação. Tudo para dar o toque de urgência que acompanha qualquer discussão, pública ou não, sobre o tema. Pela frequência com que esse psicoativo aparece nas manchetes de jornais, matérias televisivas e debates acalorados entre membros do governo e profissionais de variadas formações, era de se esperar que o conhecimento sobre esse derivado da cocaína fosse mais difundido. Ledo engano: o desconhecimento é generalizado.
      Como surgiu o crack? De onde vem? Como funciona no organismo? Por que, de uma hora para outra, se alastrou com tanta velocidade pelo Brasil, inclusive em cidades do interior? E, a pergunta de um milhão de reais: como fazer para que a droga deixe de cobrar o alto preço em vidas, atualmente a sua marca trágica?
Se todas essas respostas estivessem dando sopa por aí, provavelmente sequer estaríamos falando do assunto. Já que aqui estamos, vamos ver até onde chegamos com essas perguntas. Afinal, o método socrático sempre trouxe bons resultados na produção de conhecimento.

Perguntas e respostas
     Uma das consequências não intencionais (embora óbvia) da guerra às drogas e, especificamente, da criminalização delas é que toda e qualquer atividade que as envolve ocorrerá ao resguardo dos olhares públicos. Ninguém vai arriscar pagar as duras penas que a lei impõe por “trazer consigo” essas substâncias. Assim, fica difícil conhecer a história das drogas ilegais, incluído aí o crack.
     É certo que ocorreram nos Estados Unidos os primeiros registros da nova droga. O nome crack é uma referência ao som das pedras estalando ao queimarem em cachimbos. Uma onomatopeia. O relato mais sensato e verossímil é que, durante os anos 1980, a política de interdição aos entorpecentes nos EUA teve como resultado o aumento do preço da cocaína nas ruas. Buscava-se, mediante a escassez da oferta, tornar o preço dos psicoativos ilícitos alto demais e, assim, diminuir seu consumo. Resultado: o sempre ágil mercado do ilícito teve de recorrer à criatividade para manter nas ruas um produto “bom” e barato. Com as tradicionais armas do capitalismo e do mercado, o crack se tornou um rotundo sucesso. Para desespero da sociedade.
     A cocaína chama-se, em termos técnicos, cloridrato de cocaína, um alcaloide, um sal, que requer para a sua produção uma variedade de outras substâncias químicas, algumas caras e raras, portanto relativamente fáceis de controlar, e outras tão simples e baratas quanto a gasolina, cal e solventes. Com esses produtos, extrai-se da inofensiva folha da coca o princípio ativo psicotrópico. O custo de tal produção é alto, não apenas pelo preço dos insumos necessários ao processamento, mas também porque muitos deles são inflamáveis, o que amiúde provoca acidentes e prejuízos. Em vez de seguir toda a cadeia de reações até chegar ao cloridrato de cocaína, porque não parar no meio do caminho, quando já houver uma boa concentração do principio ativo da droga?
     O crack é justamente o resultado dessa filosofia de mercado: um produto mais barato, que pode ser produzido em cozinhas domésticas, a partir da pasta base, que nada mais é do que o entorpecente ainda em estado bruto e mais propício para o transporte em grandes quantidades. Qual a diferença mais importante entre o crack e a cocaína? Em vez de ser aspirado, o crack é fumado. Isso causa uma diferença essencial na forma com que a droga age em nosso organismo.
     Aspirada, a cocaína percorre o nosso corpo de maneira difusa. Apenas parte da substância vai para o cérebro, onde começa a fazer efeito. Na prática, isso significa que o efeito da droga leva mais tempo para começar, demora mais para terminar e é mais ameno. Se a mesma dose do princípio ativo for consumida na forma de crack, o percurso no organismo será outro. Ao ser fumada, a droga entra pelo pulmão, um órgão muito vascularizado e com grande superfície de contato. De uma só vez, uma quantidade enorme entra na corrente sanguínea. Do pulmão, a substância será bombeada diretamente para o cérebro. O efeito começará mais rapidamente, durará menos tempo e será mais intenso. Por isso que acredita-se que o crack é tão viciante.
     Essas informações ajudam a compreender um pouco melhor o crack. Contudo, não é a existência em si da droga que causa danos, mas o seu uso. Mais especificamente, o seu uso e as suas consequências. A diferença não é trivial, porque define, em última instância, a forma de lidar com o problema.

Políticas para o crack
Desde 2010, o governo federal divisou dois projetos voltados para lidar com as drogas em geral e com o crack, em particular. Encomendou-se à Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, um mapeamento das “cenas de uso de crack”. Especificamente no município do Rio de Janeiro, o secretário de Assistência Social, depois de ocupar a Secretaria de Ordem Pública e lá desenvolver as operações Choque de Ordem, parece ter importado de uma pasta para a outra a mesma filosofia de ataque aos problemas.
     Eis que agora a população carioca convive com o novo termo “acolhimento compulsório”. Custa-nos compreendê-lo, pois nunca foi devidamente esclarecido. Note-se que o acolhimento compulsório refere-se apenas aos casos com menores de idade, pois, afirmam as autoridades, pode-se inferir que, já que esses meninos e meninas estão nas ruas fumando crack, a família não cuida deles. No caso de maiores de idade, é mais difícil restringir o direito constitucional de ir e vir de uma pessoa em pleno gozo dos seus direitos civis.
     No dia 11 de abril de 2012, o jornal O Globo publicou uma grande matéria sobre o crack. O jornal pediu à Secretaria Municipal de Assistência Social que fizesse um “mapeamento informal” do problema. A expressão incomoda. Informalmente, o jornal informa haver cerca de 3.000 usuários e usuárias circulando pelas chamadas “cracolândias”, dos quais 20% seriam menores de idade. A objetividade desses dados é altamente questionável, mas vamos lá.
     Segundo o jornal, seria o caso dizer que, no município do Rio de Janeiro, 20% das pessoas que usam crack poderiam ser incluídas na política de acolhimento compulsório. Uma vez “acolhidos”, os menores seriam encaminhados a abrigos e centros de tratamento. À primeira vista, pode parecer uma solução interessante, mas será mesmo assim? O objetivo da política é resolver o problema do uso abusivo de uma substância psicoativa, ou apenas retirar das ruas quem traz consigo chagas da miséria, das quais o consumo de crack é apenas mais uma?
     Se o objetivo for o primeiro, e esperemos que assim seja, parece boa ideia compreender as causas que levaram cidadãos e cidadãs brasileiros a dedicar parcela tão significativa de suas energias para alimentar a adição. Terá o consumo do crack competido com quais outras alternativas de engajamento social? Houve escolha possível entre esporte, cultura, educação, família acolhedora, de um lado, e o crack e o mercado ilícito, de outro?
     A rigor, faltam ainda estudos para poder ser taxativo ao responder as perguntas acima. Há, contudo, alguns indícios do que anda ocorrendo. Em dezembro de 2009, a Secretaria Municipal de Assistência Social inaugurou um programa piloto chamado Embaixada da Liberdade, em Manguinhos. Tratava-se de um espaço de acolhimento de jovens de até 17 anos e 11 meses, no qual, se ofereciam dormitórios, alimentação e atividades lúdicas e culturais, para atrair a população mais vulnerável ao crack. Em parceria com os serviços locais de saúde, acompanhava-se o tratamento dos usuários e o reingresso na escola ou no trabalho. A casa vivia cheia, beirando o limite de sua capacidade. Desde o final de 2010, a Embaixada não funciona mais.

Imbróglio
     Hoje, se observa na política da cidade do Rio de Janeiro com relação às drogas duas tendências. Em primeiro lugar, o impulso às já famosas UPPs. Em segundo lugar, as rondas da Secretaria Municipal de Assistência Social, que gerencia o tal acolhimento compulsório.
     Sobre o primeiro caso, pragmaticamente, nos resta pressionar o governo e torcer pelo melhor. Essa política não deve ser revertida. Ela traz valorização dos imóveis no entorno das UPPs, contribui para a imagem de um Rio de Janeiro calmo e pacífico, além de ter reduzido, de fato, os índices de criminalidade violenta nas comunidades pacificadas. Isso não quer dizer que a Polícia Militar do Rio esteja isenta de críticas ou que o governo do Estado não deva ser impelido a levar a cidadania plena às áreas antes dominadas pelas armas do tráfico e pelo tráfico de armas. Críticas à ausência das secretarias de Esporte e Lazer, de projetos de educação e capacitação profissional e de maior articulação com a sociedade civil são pertinentes e necessárias. Devemos consertar o que já foi feito. Trocar o pneu com o carro em movimento.
Já no que se refere à atenção ao crack e, mais especificamente, a quem o consome, é preciso, sim, questionar o que os governos federal, estaduais e as prefeituras estão pensando para a solução desse imbróglio. Talvez seja uma boa ideia buscar o que tem sido feito em outras cidades mundo afora. Se tivermos de passar por experiências mal-sucedidas, uma por uma, até encontrar aquela que satisfaça as demandas de uma sociedade democrática, alguém vai pagar um alto preço por isso. E não serão os políticos.

Outros países
     Portugal descriminalizou todas as drogas em 2001. Já há dados que corroboram a tese de que a mudança de foco para uma abordagem concentrada na saúde foi um sucesso estrondoso, desde a redução do consumo, inclusive entre jovens, até o desafogamento do Judiciário e do sistema carcerário. Experiências mais ousadas, como a implementação de salas de consumo seguro na Suíça e no Canadá, são exemplos promissores, embora não tenham, ainda, o escopo necessário para impactar as estatísticas dos seus países.
     Apesar desses exemplos, os indícios no Brasil não são encorajadores. Na esfera federal, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) foi transferida do Gabinete de Segurança Institucional, comandado por militares, para o Ministério da Justiça. É um passo na direção certa, embora ainda não suficiente para quem compreende o tema como multidisciplinar, portanto, mais apropriado para as pastas de Saúde e Desenvolvimento Social.
     A demissão relâmpago de Pedro Abramovay, em janeiro de 2011, do governo federal, justamente quando ia liderar a Senad, depois de entrevista na qual sinalizou um caminho mais progressista para a política nacional de drogas, foi um gesto contraditório. Houve progresso, pero no mucho…

E as outras drogas?
     Por fim, uma última questão é importante para nos aproximarmos de um sistema que dê atenção aos usuários e usuárias de drogas de forma mais humana e eficaz. Será mesmo que o crack deve ser o foco dos esforços do governo, centro da política pública no trato com as drogas? Ou será ele apenas mais uma das substâncias sobre as quais se deve trabalhar? Segundo dados do Sistema Único de Saúde, o SUS, o álcool é a droga que mais danos causa a nossa saúde. Proibi-lo não faz sentido ou não teria resultado, mas por que não se concebe um plano nacional para a consciência sobre o álcool?
     Fazendo uma análise fria dos dados, a atenção quase exclusiva dedicada ao crack definitivamente não se justifica. O sistema de saúde precisa, sim, preparar-se melhor para acolher quem usa drogas. O problema não será resolvido por completo sem mudanças na legislação vigente e, principalmente, sem outro paradigma de políticas públicas para lidar com o problema. Esse deve ser o foco principal dos futuros debates.
Saiba Mais:
Documentário:
Quebrando O Tabu
Quebrando o Tabu tem como principal objetivo a abertura de um debate sério e bem informado sobre o complexo problema das drogas no Brasil e no mundo. O filme pretende aproximar diversos públicos, entre eles os jovens, os pais, os professores, os médicos e a sociedade como um todo, para que se inicie uma conversa franca que leve a diminuição do preconceito, ajude na prevenção ao uso de drogas e que dissemine informações com base científica sobre o tema. O âncora do filme é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que aceita o convite do diretor Fernando Grostein Andrade para uma jornada em busca de experiências que tiveram êxitos em vários lugares do mundo, sempre em diálogo com jovens locais e profissionais que se dedicam a tratar a questão das drogas de forma mais humana e eficaz do que as propostas na “guerra às drogas”, declarada pelos EUA há 40 anos.
Mas os danos causados por elas nas pessoas e na sociedade só cresceram. Abusos, informações equivocadas, epidemias, violência e fortalecimento de redes criminosas são os resultados da guerra perdida numa escala global. Num mosaico costurado por Fernando Henrique Cardoso, "Quebrando o Tabu" escuta vozes das realidades mais diversas do mundo em busca de soluções, princípios e conclusões. Bill Clinton, Jimmy Carter e ex-chefes de Estado, como da Colômbia, do México e da Suíça, revelam porque mudaram de opinião sobre um assunto que precisa ser discutido e esclarecido. Do aprendizado de pessoas comuns, que tiveram suas vidas marcadas pela Guerra às Drogas, até experiências de Dráuzio Varella, Paulo Coelho e Gael Garcia Bernal, "Quebrando o Tabu" é um convite a discutir o problema com todas as famílias.
Direção: Fernando G. Andrade
Duração: 71 minutos
Ano: 2011
Áudio: Português
Tamanho: 389 MB

Filme:
Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream)
O filme gira em torno de quatro personagens e os vícios que as afastam de seus sonhos, fazendo com que vivam entre a esperança e o desespero. Uma visão frenética, perturbada e única sobre pessoas que vivem em desespero e ao mesmo tempo cheio de sonhos. Harry Goldfarb (Jared Leto) e Marion Silver (Jennifer Connelly) formam um casal apaixonado, que tem como sonho montar um pequeno negócio e viverem felizes para sempre. Porém, ambos são viciados em heroína, o que faz com que repetidamente Harry penhore a televisão de sua mãe (Ellen Burstyn), para conseguir dinheiro. Já Sara, mãe de Harry, viciada em assistir programas de TV. Até que um dia recebe um convite para participar do seu show favorito, o "Tappy Tibbons Show", que transmitido para todo o país. Para poder vestir seu vestido predileto, Sara começa a tomar pílulas de emagrecimento, receitadas por seu médico. Só que, aos poucos, Sara começa a tomar cada vez mais pílulas até se tornar uma viciada neste medicamento. Uma jornada profunda no mundo das drogas. Suas vidas logo se tornarão um inferno e seus destinos prometem não ser dos melhores.
Direção: Darren Aronofsky
Duração: 100 minutos
Ano: 2000
Áudio: Inglês/legendado
Tamanho: 400 MB
Scarface
Um criminoso cubano exilado (Al Pacino) vai para Miami e em pouco tempo está trabalhando para um chefão das drogas. Sua ascensão na quadrilha é meteórica, mas quando ele começa a sentir interesse na amante do chefe (Michelle Pfeiffer) este manda matá-lo. No entanto ele escapa do atentado, mata o mandante do crime, fica com a amante dele - mas simultaneamente sente desejos incestuosos por sua irmã (Mary Elizabeth Mastrantonio) - e assume o controle da quadrilha. Em pouco tempo ele ganha mais dinheiro do que jamais sonhou. No entanto ele está na mira dos agentes federais, que o pegam quando ele está "trocando" dinheiro. Mas seu problema pode ser resolvido se ele fizer um "serviço" em Nova York para um grande traficante e pessoas influentes, que podem manipular o poder para ajudá-lo. Porém, a missão toma um rumo inesperado quando, para concretizá-la, ele precisa matar crianças.
Direção: Brian de Palma
Duração: 168 minutos
Ano: 1983
Áudio: Português
Tamanho: 626 MB
O Informante
Baseada em fatos reais, que levaram a indústria do tabaco a pagar mais de US$ 246 trilhões em indenizações nos Estados Unidos, a história gira em torno de um cientista que, após sua demissão da empresa por se recusar a continuar compactuando com ela após a constatação, por meio de experimentação científica, de como o método de produção do cigarro perpetuava o vício da nicotina, passa a ser perseguido por seus antigos empregadores. Estes são receosos de que ele viesse a revelar o segredo para a população, o que abalaria significativamente os negócios.
Apoiados em um termo de confidencialidade assumido por Jeffrey Wigand (Russel Crowe), os advogados da empresa tentam pressionar o cientista por meio de ameaças de corte de benefícios prometidos na rescisão de contrato. Mesmo incomodado com a postura de desconfiança da empresa, o cientista se mostra totalmente decidido a manter o trato assumido, a despeito de seu senso de responsabilidade com a verdade, da consciência da injustiça que estava sofrendo e das dificuldades pelas quais atravessaria a partir daquele momento.
Mas o encontro do personagem com o produtor Lowell Bergman (Al Pacino) de um programa jornalístico "60 Minutos", da rede americana CBS, e a intensa pressão da empresa para que assine outros documentos que garantam o seu silêncio, levam o cientista a refletir sobre a sua responsabilidade com relação ao segredo que guardava. Mas também sobre todas as consequências que iriam recair sobre sua situação trabalhista, financeira e familiar caso quebrasse sua palavra.
Revelando os bastidores de grandes corporações e também de uma grande rede de TV, sua ética e corrupção, o filme de Michael Mann garante momentos de suspense e empolgação, além de ótimos diálogos entre Russel Crowe (o cientista), Al Pacino (o produtor) e Christopher Plummer (o repórter), acerca de ética, responsabilidade social e poder.
Direção: Michael Mann
Duração: 158 minutos
Ano: 1999
Áudio: Português
Tamanho: 508 MB

quarta-feira, 11 de julho de 2012

II Guerra Mundial (1939-1945)

Aprendendo com o inimigo
Lendas e mitos sobre a Força Expedicionária Brasileira ofuscaram a compreensão das dificuldades da campanha.

     O distintivo da Cobra Fumando costuma ser exibido com orgulho pelos veteranos da Força Expedicionária Brasileira. Nas fotografias feitas logo após a Segunda Guerra Mundial, os combatentes mostram uma postura altiva e marcial. Mas o aspecto bem-sucedido dos soldados brasileiros oculta uma série de imprevistos e improvisos que fizeram parte da trajetória da FEB na guerra.
     Antes de entrar em ação, a capacidade de combate foi duramente questionada. Até mesmo o general Mascarenhas de Moraes (1883-1968), comandante da FEB, reconheceu problemas de organização e treinamento do contingente. Mas o despreparo inicial foi compensado pelo bem executado processo de indução dos soldados ao Exército, sob uma liderança capaz.
     A instrução dos brasileiros foi realizada em várias etapas, desde a incorporação dos recrutas e voluntários no Brasil – quando recebiam treinamento nos quartéis do pré-guerra – até estágios emergenciais de treinamento na Itália, antes do batismo de fogo. No dia 8 de novembro de 1944, uma nota da Infantaria fornecia orientações para o treinamento dos pelotões de fuzileiros no ataque, juntamente com técnicas de lançamento de granadas de mão e esgrima com baionetas. Na véspera do engajamento no front, o comando da FEB se esforçava para incutir noções básicas de conduta em combate a fim de melhorar as condições de sua tropa. Mas esse esforço não foi suficiente: após os primeiros combates em Monte Castello, no final de 1944, o comando da divisão expedicionária emitiu uma nota de instrução, em 15 de janeiro de 1945, resignando-se e reconhecendo a urgência de métodos para renovar as habilidades táticas dos pelotões da Infantaria brasileira.
     Nos primeiros meses de 1945, a Infantaria Expedicionária passou a treinar táticas de infiltração, que foram empregadas no ataque final contra Monte Castello, realizado no dia 21 de fevereiro daquele ano. Um conhecido aforismo militar apregoa que o melhor instrutor é o próprio inimigo, e os brasileiros se beneficiaram tanto da instrução intensiva ministrada no front quanto da prática em combate.
     Mesmo com o treinamento preliminar e o aprendizado nas montanhas italianas, era imprescindível manter a prática de exercícios de campo meses depois da estreia em combate. No início de abril de 1945, os veteranos passaram a realizar programas semanais de educação física, aulas sobre patrulhas noturnas e sobre como proceder no caso de alguém cair prisioneiro. Os exercícios eram conduzidos em dois turnos, na vizinhança das trincheiras, permitindo que um se mantivesse nas posições enquanto o outro recebia a instrução. Isto era necessário para adequar a tropa à realidade dos combates.
     O sucesso da FEB, portanto, é explicado pelo profissionalismo militar. A rápida assimilação de conhecimentos e habilidades capacitou toda a tropa, que pôde planejar e executar as operações – inclusive o aparato tecnológico –, reagindo ao imprevisto causado pelo inimigo.
     Outro motivo da saída vitoriosa da FEB é a qualidade de seus soldados. Apesar de os instrutores americanos terem avaliado negativamente a preparação preliminar dos brasileiros, esses mesmos instrutores os consideraram inteligentes e motivados. Além de oficiais de carreira, a divisão brasileira contou com muitos tenentes de Infantaria provenientes dos Centros de Preparação dos Oficiais da Reserva (CPOR). Eles eram mais numerosos do que os oficiais da ativa em várias das unidades de Infantaria.
     Sargentos, cabos e soldados eram majoritariamente de origem urbana, alfabetizados, e apresentavam robustez e resistência física, a ponto de a FEB precisar confeccionar uniformes maiores que ao do fardamento normal do Exército. Do total de praças, 80,7% eram originários das regiões Sul e Sudeste do país. Os convocados oriundos do Nordeste, escolhidos por suas ótimas condições de saúde e grau de instrução, eram, na maioria, estudantes que serviram como cabos e sargentos, incorporados para suprir a deficiência de graduados experientes. No total, cerca de 25.500 brasileiros compuseram a FEB.
      Apesar dessas constatações, as narrativas sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial permanecem imbuídas de uma variedade de anedotas e mitologias. O episódio foi responsável por suscitar crenças nas supostas qualidades de uma excepcionalidade brasileira pretensamente capaz de dominar as mais duras adversidades a partir de “saberes inerentes”.
     Estariam os brasileiros, portanto, dispensados de aprender de acordo com as regras dos gringos sem jogo de cintura, sendo capazes de vencer as durezas da guerra unicamente com as soluções de arremedo inventadas no calor do momento. Nada de manual de campanha e instrução convencional! Pelo menos é o que dizem várias das narrativas ufanistas. Uma das mais conhecidas se refere à artimanha brasileira para conter o problema do “pé de trincheira”, o congelamento dos pés: em vez de limpeza constante e troca das meias, os soldados da FEB teriam sido capazes de erradicar a moléstia inserindo palha nas galochas de inverno fornecidas pelo Exército americano. Entretanto, os próprios registros médicos da FEB revelam que a quantidade de pé de trincheira entre os brasileiros foi ligeiramente maior que a das demais divisões do Exército americano ao qual o contingente brasileiro foi incorporado. Ainda assim, a lenda sobre a palha ainda é repetidamente alardeada.
     Outra das anedotas mais reproduzidas diz respeito ao suposto “medo” que os combatentes alemães sentiam das armas brancas empregadas pelos brasileiros, embora fossem raríssimas as oportunidades de se aproximarem do inimigo durante o combate para que houvesse a chance de se utilizar a baioneta ou a faca de trincheira – havia outros recursos mais eficazes prontamente disponíveis, como os fuzis e as metralhadoras. Por exemplo, José de Oliveira Ramos, oficial médico da FEB, aponta que, dos 1.862 ferimentos que contabilizou entre brasileiros, apenas três foram causados em combate corpo a corpo.
     É certo que as narrativas dos correspondentes de guerra, que raramente tiveram a oportunidade de ir à linha de frente, contribuíram para a profusão de anedotas. O jornalista Joel Silveira escreveu sobre um sargento brasileiro que teria conseguido se livrar de um cerco dos alemães “de ‘lambedeira’ na mão e dando berros de insano”. Já o veterano Leonercio Soares, que realmente teve a chance de combater contra os alemães, tinha outro ponto de vista: “destros em esgrima a baioneta, não seria uma insignificante faca que os iria intimidar”.
     É natural que tenha surgido uma série de fábulas como essas. Toda unidade militar precisa reforçar seu moral para o combate e instigar o espírito de corpo, e as bravatas são uma parte importante neste processo. Mas é interessante perceber como as narrativas mais exacerbadas da FEB na Itália remetem a elementos da cultura nacional sem relação com a Segunda Guerra e se aproximam da celebração do “jeitinho” brasileiro de resolver problemas. A criatividade seria o recurso empregado para que pudessem ser superadas as dificuldades de origem. A bugiganga tecnológica americana inventada para os rigores do inverno teria sido superada pela gambiarra com palha. O combativo militar alemão teria sido vencido pela “malandragem” de carregar peixeiras.
     O ímpeto do avanço brasileiro sobre o vilarejo de Montese foi preocupante para os alemães, gerando a maior concentração de artilharia na jornada de combates do dia 14 de abril de 1945. As baixas neuropsiquiátricas da FEB foram semelhantes às das divisões americanas na Itália – cerca de 350 de um grupo de 15.000 homens em oito meses de combate – o que mostra que os soldados brasileiros estiveram tão expostos aos rigores do front quanto seus companheiros de armas das divisões americanas.
     A FEB concluiu a campanha como um importante elemento no avanço Aliado pelo norte da Itália. Nos combates que antecederam a rendição de Fornovo, quando 14.779 alemães e italianos se tornaram prisioneiros em dois campos instalados pelos brasileiros, a taxa de baixas fatais entre o inimigo foi cinco vezes maior do que as perdas do Brasil.
     Mas, mesmo com as recentes pesquisas feitas a partir da documentação de campanha – estudos de campo e narrativas e diários de combatentes –, a ideia do “jeitinho de fazer a guerra” continua em voga. Tanto o triunfalismo quanto o provincianismo dos combatentes brasileiros ainda contribuem para consolidar uma imagem pueril da experiência de guerra vivida pela FEB, ao darem a impressão de que o improviso bastou para derrotar um inimigo calejado e senhor do terreno.

Cesar Campiani Maximiano é autor de Barbudos, Sujos e Fatigados. São Paulo: Grua Livros, 2010.
Saiba Mais - Bibliografia
FERRAZ, F.C. Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
MASCARENHAS DE MORAES, J.B. A FEB pelo seu Comandante. Rio de Janeiro: Bibliex, 2003.   
MAXIMIANO,C.C.; Bonalume Neto, R. Brazilian Expeditionary Force in WWII. Londres: Osprey Publishing, 2011.
OLIVEIRA, D. Os Soldados Alemães de Vargas. Curitiba: Juruá, 2008.

Apocalipse - Redescobrindo A Segunda Guerra Mundial
A série narra a história da Segunda Guerra Mundial utilizando imagens feitas por cinegrafistas amadores; cenas ultrassecretas, mas já liberadas; e jornais cinematográficos que não foram exibidos naquela época.
As imagens redescobertas foram colorizadas para dar aos telespectadores a sensação de como foi vivenciar a guerra. A força da série consiste na tentativa de contar a história da Segunda Guerra Mundial de uma maneira nova, utilizando imagens singulares de uma forma que o público nunca viu antes. A série relata esse conflito terrível por meio do trágico destino de quem foi à guerra (soldados), de quem sofreu suas consequências (civis) e de quem a comandou (chefes militares e políticos). A guerra matou 50 milhões de homens e mulheres no mundo todo – e foi a primeira da história com tantas vítimas civis quanto baixas militares.

Direção: Daniel Costelle e Isabelle Clarke
Ano: 2009
Áudio: Português
Duração: 47 min./cada episódio
Episódio I -A Agressão Nazista
Após tomar o poder e estabelecer o regime nazista na Alemanha, Hitler volta seus olhos para a Europa. Inesperadamente, o "Fuhrer" forma uma aliança com Stalin antes de invadir a Polônia. A França e a Grã-Bretanha não têm outra escolha e declaram guerra contra a Alemanha, o que não impede os alemães e soviéticos de calmamente dilacerar a Polônia.
Começa a perseguição aos judeus e ciganos. Mais ao Ocidente, a "guerra falsa" começa - um período de espera, incerteza e também de esperança. Lembrando o sofrimento pelo qual passaram durante a Primeira Guerra Mundial, os franceses ainda esperam evitar a guerra.
Episódio II- A Guerra Relâmpago
Em 10 de maio de 1940, tem início a "Blitzkrieg" (guerra-relâmpago). O exército alemão movimenta-se rapidamente pela Bélgica, Holanda e França. Após alguns ataques violentos, as tropas britânicas entram em pânico e o exército francês é derrotado. Aos civis cabe fugir, criando um verdadeiro êxodo.
A França fica sem forças diante do poderoso inimigo e seu povo tem de escolher entre colaborar com Petain ou resistir de acordo com o ideal de Churchill. Apesar dos fortes bombardeios em cidades britânicas, Hitler finalmente percebe que não pode dominar o Reino Unido e então resolve se voltar contra a União Soviética, sua "aliada".
Episódio III- Pesadelo Alemão
Paris é ocupada, bem como a maioria das capitais europeias. A exceção é Londres, que resiste aos submarinos e bombardeios alemães. Churchill se recusa a ceder. Muito preocupado com o rearmamento americano, Hitler resolve atacar a União Soviética para completar seu domínio na Europa antes que os Estados Unidos possam intervir no continente europeu. Trata-se de um novo jogo para ele. Porém, empolgado com suas vitórias, o "Fuhrer" é convencido que pode conquistar a Rússia de Stalin em três meses.
Passando pelos países bálticos e pela Ucrânia, onde os alemães inicialmente são recebidos como libertadores, a "Wehrmacht" (Forças Armadas alemãs) executa uma verdadeira guerra de extermínio contra os judeus-bolchevistas. Inesperadamente, e com a ajuda do mau tempo, os soviéticos se defendem heroicamente.
É o começo de um longo pesadelo para os soldados alemães. A "Wehrmacht", que chegou perto de Moscou, fica paralisada, tal com na África, onde o general Rommel, que tinha ído ajudar os italianos, é seriamente desafiado pelos aliados. Com o ataque surpresa dos japoneses em Pearl Harbor, a guerra se torna mundial.
Episódio IV- Momentos Decisivos
Após o ataque surpresa em Pearl Harbor, Roosevelt declara guerra contra o Japão. A guerra se torna mundial. Apesar de sua brava resistência, as forças aliadas não são capazes de diminuir o avanço tempestuoso do Exército japonês no sudeste da Ásia. Até mesmo a Índia e a Austrália correm perigo.
A derrota japonesa em Midway, seguida pelo desembarque americano em Guadalcanal, são os primeiros sinais de esperança, mas também o começo de longas e sangrentas batalhas no "inferno verde" da floresta. Enquanto isso, a resistência começa a se organizar na Europa e no norte da África.
Seus ataques aumentam e os bombardeiros britânicos começam a espalhar o terror pela Alemanha. Ainda assim, nada parece ser capaz de deter as tropas de Hitler. Rommel está na fronteira do Egito e a suástica voa sobre a cidade de Stalingrado. A "Solução Final" leva ao extermínio dos judeus.
Episódio V -O Dia D
The Great Landings (1944) O Dia D na Normandia e em Saipan, no Pacífico, praticamente no mesmo dia.
Episódio VI -O Apocalipse
1944: os aliados desembarcam na Itália, mas seu avanço é detido pela Wehrmacht (Forças Armadas alemãs), protegida atrás da "Gustav Line" (Monte Cassino). Na Normandia e em Siapan, no Pacífico, os aliados organizam simultaneamente o maior desembarque da história.
Nesta dura batalha entre os aliados e as forças do Eixo, civis dos dois lados do planeta pagam o maior preço. Em 20 de julho, Hitler milagrosamente escapa de um atentado. A repressão é cruel e a SS assume o total controle da Alemanha. Em Ardennes, o último contra-ataque iniciado por Hitler para repelir os aliados falha, em partes graças ao comportamento heroico dos soldados.
No leste, o Exército Vermelho continua avançando e chega em Berlim. Nada mais pode salvar a Alemanha, nem mesmo suas armas secretas, o V1 e V2. Hitler comete suicídio. No Pacífico, os kamikazes atacam a frota americana e o Exército japonês, fanático como nunca, luta até o seu último homem.
Para acabar definitivamente com o Império do Sol Nascente, mas evitar um desembarque no Japão, que seria incrivelmente sangrento, os americanos lançam a bomba atômica. É o apocalipse.

Rompendo o Silêncio (Broken Silence)
Série de cinco documentários de média-metragem sobre o Holocausto, dirigidos por cinco grandes cineastas: Luis Puenzo, Pavel Chukhraj, János Szász, Vojtech Jasny e Andrzej Wajda. Produzidos por Steven Spielberg e baseados em documentos pertencentes à instituição "Survivors of the Shoah Visual History Foundation", também de Spielberg, "Rompendo o Silêncio" é um emocionante painel que retrata os horrores do Holocausto na Segunda Grande Guerra, sob o ponto de vista de quem o vivenciou de perto... e sobreviveu para alertar o mundo. Cada filme traz impressionantes imagens dos arquivos da época (algumas raras, em cores), que nos levam a reavaliar os valores de toda uma civilização. Um autêntico documento histórico.
Ano: 2002
Áudio: legendado
Duração: 55 min./cada documentário
 I-"Olhos do Holocausto"
O diretor húngaro János Szász (Woyzeck) enfatiza, em Olhos do Holocausto, a experiência do horror a partir da leitura de verbetes de uma enciclopédia, destacando palavras como "antissemitismo", "deportação" e "crematório", sempre enfatizando a experiência de sobreviventes que eram crianças à época. Esta obra de valor insuspeito é imprescindível para qualquer espectador que queira entender melhor a história recente.
II-"Alguns que Viveram"
O diretor argentino Luis Puenzo (A História Oficial) realizou Alguns que Viveram, que mostra como a Argentina, sob o governo simpatizante de Juan Perón, abriu suas portas para criminosos de guerra, deixando claro que "o Holocausto pode acontecer de novo em qualquer lugar", como reafirma o historiador Haim Avni, que assessorou Puenzo.
III-"Crianças do Abismo"
O russo Pavel Chukhraj (O Ladrão), em Crianças do Abismo, sentiu-se pleno ao relatar o drama de crianças e adolescentes que presenciaram a morte de seus pais e foram obrigados a sobreviver sozinhos. Os sobreviventes do Holocausto, detalham suas experiências de resistência, traição, resgate e o desejo de vingança.
IV-"Eu Me Lembro"
Já o polonês e veterano Andrzej Wajda (As 200 Crianças do Dr. Korczak), com Eu me Lembro, registra, em preto-e-branco e sem narração, o depoimento contundente de quatro sobreviventes que foram ajudados ou traídos por seus vizinhos poloneses. Destaque para as imagens do papa João Paulo 2° diante do Muro das Lamentações, em Jerusalém.
V-"Inferno na Terra"
O tcheco Vojtech Jasny escolheu Inferno na Terra como título de seu segmento, "um filme de horror", pois aquele "foi um período em que os demônios da mente humana escureceram o mundo"; Jasny dirigiu esta impressionante visão sobre Theresienstadt, o gueto "modelo", montado pelos nazistas para enganar o mundo sobre as condições de tratamento dos judeus. Depois que seu pai foi morto no campo de Auschwitz, trabalhou como espião para os aliados.