“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 6 de abril de 2013

Sem intermediários: evangélicos e protestantes no Brasil.

Sem intermediários
Teorias de Lutero romperam com a autoridade católica pregando o contato direto entre o homem e Deus pelo poder da fé.
     Evangélicos, batistas, presbiterianos, adventistas, pentecostais, protestantes, anabatistas e congregacionistas. Muitas vezes a discussão sobre a doutrina protestante se concentra no problema de classificar e diferenciar suas diferentes denominações. Mas, para além das definições dogmáticas e das confissões de fé, todas estas Igrejas – e outras que se desenvolveram ao longo da fragmentação religiosa da cristandade ocidental – têm o mesmo ponto de partida: o núcleo doutrinal luterano da justificação pela fé.
     Entender o protestantismo significa compreender o que era a fórmula da “salvação pela fé”, tal como foi elaborada pelo frade agostiniano Martinho Lutero, na primeira metade do século XVI, e retomada sucessivamente pelos demais movimentos reformados.
     Martinho Lutero (1483-1546) cresceu e se formou na fronteira eslava da cristandade, na Saxônia, Alemanha, ingressando aos 22 anos no Convento de Erfurt. Sete anos depois, tornou-se doutor em Teologia em Wittenberg, onde passou a lecionar Teologia e Exegese Bíblica. Este mergulho direto nas Sagradas Escrituras, entre 1513 e 1517, permitiu que ele formulasse uma nova interpretação do conceito de Deus e do Homem, condensada na sua doutrina da Teologia da Cruz.
     O impulso definitivo rumo a esta nova doutrina foi a chamada “experiência da torre”, na qual Lutero elaborou o seu conceito de justiça passiva, refletindo sobre um trecho da Epístola aos Romanos, de Paulo: “o justo viverá pela fé”. Muitos haviam meditado sobre o sentido daquelas palavras, mas em Lutero elas dispararam uma reviravolta teológica: o homem era justificado apenas pela fé e de nada valiam as ações individuais, já que não poderíamos modificar a natureza pecaminosa. Lutero, portanto, desenvolveu uma visão muito pessimista da natureza humana, que, em seu entender, permanecia corrompida mesmo após a redenção, a remissão dos pecados que se realiza, para a humanidade, após o sacrifício de Cristo na Cruz.
     Neste caso, a justificação do homem só poderia ocorrer por iniciativa divina: Cristo toma para si o fardo dos pecados dos homens, concentrando os rigores da justa e terrível cólera do Pai. Por mais que o homem fosse pecador, se tivesse uma fé maior que o pecado, Cristo o justificaria.
     Ter fé, no sentido luterano do termo, significava compreender o valor do sacrifício de Cristo e crer em sua graça redentora para abrir o horizonte da salvação. Como era um dom totalmente gratuito, sem nenhum correspondente nas ações humanas, implicava a recusa da noção de “obras meritórias” – sobre as quais o papado havia construído sua própria autoridade, inclusive pela teoria das indulgências (remissão das penas cabíveis para os pecados cometidos).
     Em suas 95 Teses (1517), Lutero condenava as indulgências, pois elas forneciam aos pecadores uma falsa segurança. Se o homem pecador não pode realizar obras boas, as indulgências são inúteis. O que salva o homem é somente a fé.
     Sua luta contra os “abusos” da Igreja Católica não nascera com o objetivo de provocar um rompimento. Tornar laica a vivência religiosa – independente de instituições, de rituais e da presença em locais de culto – e abolir a separação entre o clero e os fiéis eram vistos como um retorno à forma primitiva e apostólica da Igreja, baseada na pregação e na relação direta do crente com Deus, pelas Escrituras.
     No sentido católico do termo, ter fé era outra coisa: aderir à mensagem divina da Revelação do modo como os bispos e os párocos a ensinavam aos fiéis. A fé que salva era um sentimento subjetivo de misericórdia divina, a resposta para o problema angustiante da salvação, que seria alcançada, segundo a Igreja, quando se seguiam os seus ditames: confessar-se, arrepender-se e obter a absolvição libertadora, para realizar boas obras. A confissão, para ter valor, deveria ser completa, e os erros discriminados por quantidade, qualidade e circunstância. Era como contar as gotas de água em um oceano!
     Nos séculos XVI e XVII, aos olhos de mercadores, artesãos, soldados e camponeses, a Bíblia traduzida para uma linguagem familiar e acessível ao fiel, sem cortes e sem precisar da mediação de intérpretes, significava poder encontrar o que buscavam avidamente: por um lado, um Deus vivo, fraterno e humano para com suas fraquezas, e, por outro, uma nova concepção do sacerdócio.
     A definição reformada do sacerdócio universal, expressa pelo lema “Cada homem é pastor de si mesmo”, respondia a este desejo de contato direto com a Palavra de Deus e a uma recusa de todo tipo de intermediação. Para o mercador itinerante, por exemplo, o papel da Igreja como intermediária apagava seu mérito de ter obtido êxito em seu ofício graças ao empenho e a uma educação cultivada privadamente. O gosto pela autonomia e pelo governo de si mesmo não se manifesta apenas nas coisas políticas, refletindo-se também em uma religiosidade mais ativa. Fossem livres, rendeiros, assalariados ou servos, eles traduziam a atuação eclesiástica como mais uma forma de exploração senhorial ou como sua legitimação.
     Para a maioria dos fiéis, a Reforma não era um protesto contra os “abusos” das autoridades eclesiásticas, mas uma revolução de sentimentos. A vida deixava de buscar na morte o seu ponto de referência, e os vivos se empenhavam em usar seus méritos aqui na Terra mesmo.

Silvia Patuzzié professora da PUC-Rio e da Fundação Getulio Vargas e autora de “Humanistas, príncipes e reformadores no Renascimento”, no livro Modernas Tradições. Percursos da Cultura Ocidental, séculos XV-XVII (Editora Access/Faperj, 2002).

Saiba Mais - Bibliografia
BAINTON, RolandH. Erasmo da Cristandade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988.
FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, um destino. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
MAFRA, Clara.  Os Evangélicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

Saiba Mais - Filmes
Lutero (Luther)
Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero (Joseph Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se junta ao monastério, mas logo fica atormentado com as práticas adotadas pela Igreja Católica na época. Após pregar em uma igreja suas 95 teses, Lutero passa a ser perseguido. Pressionado para que se redima publicamente, Lutero se recusa a negar suas teses e desafia a Igreja Católica a provar que elas estejam erradas e contradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero foge e inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e que eles permitem o acesso de todas as pessoas a Deus.
Direção: Eric Till
Ano: 2003
Áudio: Português
Duração: 121 minutos


A rainha Margot
Filme inspirado na obra de Alexandre Dumas apresenta as intrigas por trás da noite de São Bartolomeu, um dos principais massacres da França, acontecido há 440 anos.
     Ao olhar pela janela, as ruas de Paris parecem calmas, vazias. O silêncio, no entanto, engana. Pouco antes da meia noite, os sinos de uma igreja próxima ao palácio do Louvre dão o sinal para tropas que avançam na sombra. Os momentos seguintes são de pânico, gritos medonhos, lutas de espada, corpos seminus espalhados pelo chão, pescoços degolados e eventuais fugitivos, que correm ensanguentados e atônitos. Na passagem de 23 para 24 de agosto de 1572, há exatos 440 anos, acontecia a noite de São Bartolomeu, um dos principais massacres da história da França. Sob ordens do rei Carlos IX, católicos assassinaram cerca de três mil protestantes. O episódio ocorrido durante as guerras de religião (1562-1592) foi retratado pelo romance A rainha Margot (1845), de Alexandre Dumas,  adaptado fielmente para o cinema pelo diretor Patrice Chéreau, em 1993.
     Margot, interpretada pela encantadora atriz Isabelle Adjani, é o apelido de Margarida de Valois (1553-1615), irmã de Carlos IX e filha do rei Henrique II com Catarina de Médecis. A posição nobre fez com que ela testemunhasse e fizesse parte – ainda que forçosamente – das disputas por poder alimentadas pelos conflitos religiosos. Menos de uma semana antes da noite de São Bartolomeu, Margot havia sido obrigada a se casar com o líder protestante Henrique de Navarra (Daniel Auteil), numa tentativa de manter a paz no reino. Logo no início do filme, Margot avisa ao marido: “É um casamento pela paz. Ninguém me obriga a dormir com você”.
     A união, idealizada por Catarina de Médecis, de nada adiantou para diminuir a tensão no reino. O filme não mostra, mas a rainha-mãe já havia feito Carlos IX assinar, dois anos antes, o tratado de Paz de Saint-Germain, concedendo liberdade de culto aos protestantes em regiões específicas e permitindo que eles fossem admitidos em empregos da administração pública. No entanto, os católicos não gostaram das concessões e os protestantes não as acharam suficientes. E o conflito continuou.
     A origem das disputas, que aconteciam também em outros países da Europa, está no ano de 1517, quando Martinho Lutero proclamou seu rompimento com a Igreja Católica. João Calvino, em Genebra, logo o seguiu, inspirando e coordenando os protestantes franceses. Os massacres pelo reino foram generalizados.
     Catarina de Médecis foi uma figura importante na busca pela paz. No filme, no entanto, o destaque é dado a seu lado manipulador, brilhantemente encarnado pela atriz italiana Virna Lisi. Ela aparece como culpada pela morte de pelo menos três importantes personagens históricos, incluindo o próprio filho, Carlos IX.
     No longa-metragem, na obra de Dumas e, possivelmente, também na vida real – como ilustram livros como Histoire de France, de Pierre Miquel -, a rainha-mãe teria encomendado o assassinato do almirante Coligny, importante chefe protestante. Dumas relata a grande admiração que Carlos IX tinha pelo almirante, chamando-o inclusive de “meu segundo pai”. Na adaptação para o cinema, fica claro que Catarina não teria gostado da aproximação, que permitia a Coligny ter forte influência sobre o rei. No dia 22 de agosto, a tentativa de assassinato acabou falhando e, ao ser descoberta pelos protestantes, gerou grande revolta.
     A partir deste ponto, outro personagem que ganha espaço no filme é o estranho rei Carlos IX (Jean-Hugues Anglade). Instável, infantil e certamente despreparado para o posto, ele vive cansado da influência da rainha-mãe e dos interesseiros à sua volta. Sem saber como reagir à provável revolta protestante depois do atentado a Coligny, é influenciado por Catarina e ordena que todos os chefes da religião sejam assassinados. Henrique de Navarra é um dos únicos a escapar da morte ao abandonar o protestantismo e se tornar católico. Ele repetiria o gesto alguns anos depois, já como Henrique IV da França, e diria a famosa frase: “Paris bem vale uma missa”.

Dumas e a pesquisa histórica
     Alexandre Dumas tinha o hábito de criar suas narrativas baseado em documentos e, neste caso, não o fez de outra maneira. Apesar de florear e acrescentar novas situações, A Rainha Margot é um de seus romances que mais se aproxima dos fatos narrados pelos historiadores – e, em tese, pela própria Margot em um livro de memórias atribuído a ela.
     A cena (tanto no livro de Dumas, quanto no filme) em que o quarto de Margot é invadido por um protestante ferido durante a noite de São Bartolomeu, por exemplo, pode ser mais do que uma invenção do escritor francês. O fato foi inspirado nas memórias da própria Margot. Dumas, no entanto, substituiu o nome citado por ela – Monsieur de Teian – pelo de Joseph La Môle, conhecido como um de seus amantes.
     O problema ao se tentar entender a história oficial é que há dúvida, entre alguns historiadores, se essas memórias de Margarida de Valois foram realmente escritas por ela. A francesa Éliane Viennot, professora de literatura da Universidade de Saint-Étienne, por exemplo, publicou em 1996 um artigo defendendo a veracidade das memórias. Seja como for, o documento utilizado por Dumas tem posicionamentos importantes: Margot tira boa parte da culpa de sua mãe Catarina em relação ao massacre, e afirma que os idealizadores teriam sido seu irmão duque de Anjou (futuro Henrique III) e o duque de Guise. Este último também estaria na origem do atentado contra Coligny.

Sangue e luxúria
     Dumas se apropria das informações fornecidas por Margot e por outros memorialistas, acrescentando detalhes sórdidos, enfatizados na película de Patrice Chéreau. O longa-metragem pode surpreender os fãs mais tradicionais do escritor, não acostumados a tantas cenas de violência e nudez - acentuadas por fortes insinuações de incesto e banhos de sangue sobre roupas mais brancas do que em comercial de sabão em pó (como no cartaz francês, acima). Margot seria uma libertina: dormiu com seus três irmãos, além do marido Henrique de Navarra, o duque de Guise e o conde de La Môle. Em uma das cenas mais marcantes do filme, ela é assediada pelos irmãos, que a deixam praticamente nua enquanto mostram marcas deixadas por La Môle em seu pescoço e coxas. O duque de Alençon, mais novo dos irmãos, escancara: “Se não fosse estéril, teríamos um bastardo”.
     Talvez com medo de afastar as plateias mais tradicionais, o cartaz do filme foi alterado em muitos países, mostrando apenas o casal apaixonado Margot e La Môle. No entanto, mesmo os desavisados que buscam um romance calmo, segundo parece indicar o cartaz ou a capa do DVD, dificilmente se decepcionarão. Além das excelentes atuações, que renderam o prêmio de melhor atriz em Cannes para Virna Lisi, o filme consegue cativar o espectador e incentivar o interesse pelas guerras de religião.
     Teria Margot relações sexuais com seus próprios irmãos? Catarina de Médicis seria a responsável por uma série de envenenamentos? Para Dumas, isso pouco importava. Ele já havia sido acusado por seus adversários de violar a história de forma insolente em outros de seus romances. Sua resposta era simples e irônica: “Reconheço que a violento, mas faço lindos filhos com ela”. 
     Assim sendo, Patrice Chéreau apropriou-se de uma das maiores obras de Dumas, e fez um filme que pode ser considerado, facilmente, um lindo bastardo do escritor francês.
Direção: Patrice Chéreau
Ano: 1994
Áudio: Francês/Legendado
Duração: 137 minutos

Henrique IV: O Grande Rei da França
França, 1563. Protestantes e católicos lutam por terras e poder, usando a religião como justificativa.
No comando dos protestantes está Henrique de Navarra, que conduz seus homens contra a poderosa rival de sua mãe, Catarina de Médici, rainha da França. Catarina oferece a Henrique a mão de sua filha, Margot, em sinal de reconciliação, mas o casamento termina num banho de sangue. Ele sobrevive ao Massacre do dia de São Bartolomeu, mas é feito prisioneiro durante quatro anos.
Embora recorrendo a qualquer tática para obter o trono, Henrique se torna um rei que, pela sua liberdade de religião e de opinião, pode genuinamente dizer que é um dos verdadeiros humanistas.
Direção: Jo Baier
Ano: 2010
Áudio: Português
Duração: 148 minutos


O fim de um monopólio
Só com a vinda da família real os protestantes conseguiram instalar-se e disseminar sua diversidade religiosa no Brasil.
     Poucas décadas após a morte de Martinho Lutero (1483-1546), seus ideais desembarcaram no Brasil. A chamada França Antártica, que ocupou o Rio de Janeiro entre 1555 e 1560, foi a primeira experiência protestante em nossas terras. No século seguinte haveria um episódio mais duradouro: os holandeses que governaram parte do atual Nordeste brasileiro de 1630 a 1654 também compartilhavam da religião protestante.
     Mas os dois casos foram exceções. Depois de expulsos os franceses e os holandeses, a estrutura religiosa da Igreja Reformada foi desfeita, e o Brasil voltou ao monopólio da catequização católica. Assim permaneceria até o século XIX.
     A transferência da família real portuguesa, em 1808, foi um marco para a entrada de estrangeiros, e suas crenças, na nova sede do governo português. O Tratado de Comércio e Navegação assinado em 1810, que garantiu a abertura dos portos brasileiros para produtos ingleses, assegurava também, em um de seus artigos, a liberdade de consciência e culto, permitindo igrejas protestantes com aparência discreta e sem buscar a conversão dos católicos. No ano seguinte, já se instalava, no Rio de Janeiro, a primeira igreja protestante, de denominação anglicana. Atendia os súditos ingleses, que antes tinham que se reunir para os cultos em residências ou navios britânicos ancorados. Em 1824, a nova Constituição reafirmou o catolicismo como religião do Império, mas reconhecia outras crenças cristãs, desde que não houvesse catequese nem ataques à religião oficial.
     A imigração alemã trouxe as primeiras comunidades luteranas, instaladas em 1824 em Nova Friburgo (RJ) e em São Leopoldo (RS). A forte imigração no Sul contribuiu para o aparecimento de diversas outras colônias. As igrejas luteranas eram simples, sem sinos, torres ou qualquer identificação, construídas e organizadas pelo esforço dos colonos.
     Na mesma época, formaram-se também colônias suecas, suíças, holandesas, escocesas, inglesas e norte-americanas, espalhando diversas vertentes dos cultos reformados Brasil afora. A influência dos protestantes norte-americanos foi importantíssima. Com a Guerra Civil nos Estados Unidos (1861-1865), muitos vieram em busca de refúgio e de terras. Incentivavam e financiavam a expansão de missões, enxergando no Brasil uma seara fértil para a conversão. Fundaram templos presbiterianos (o termo deriva da organização governada por uma assembleia de presbíteros ou anciãos), batistas (que enfatizam o batismo de adultos como exposição bíblica e pública da fé) e metodistas (que pregam o estudo metódico da Bíblia e a relação pessoal entre o indivíduo e Deus). Essas igrejas contaram com a simpatia dos que viam no protestantismo sinais do progresso norte-americano e dos preceitos republicanos, ao mesmo tempo que viam o atraso do Brasil e da monarquia como influência do catolicismo.
     Os protestantes divulgaram sua mensagem nas cidades e nos campos, atendendo os mais diversos grupos sociais e distribuindo Bíblias de Norte a Sul. Aos poucos, eles se estruturaram e aumentaram o raio de ação, difundindo ideias e criando missões, centros de auxílio, hospitais, obras assistenciais e escolas. A educação sofreu transformações fundamentais ao incorporar experiências de outros países, como jardins de infância, classes mistas de meninos e meninas, prédios projetados especificamente para o ensino, salas próprias para aulas práticas, novos conteúdos e disciplinas.
     A evangelização protestante teve, portanto, diferentes etapas no Brasil: os franceses visavam os índios; no período holandês, alcançou índios, negros e brancos; com as migrações do século XIX, os brancos e negros. O século XX, por fim, veria o avanço pentecostal, logo após seu surgimento nos Estados Unidos.
     Embora “evangélico” e “protestante” sejam vistos como sinônimos, os termos têm significados distintos. Em sua origem, “evangélico” diz respeito àquele que se submete ao ensinamento do Evangelho, sendo apenas a Bíblia sua fonte de revelação. O termo “protestante”, por sua vez, advém de um documento de protesto apresentado pelos luteranos na segunda Dieta de Spira (1529), que declarava a fé católica como a única legal. No Brasil, em geral, “protestante” se refere aos fiéis das igrejas oriundas da Reforma, como os presbiterianos, luteranos e anglicanos, enquanto “evangélicos” abrange os seguidores das igrejas pentecostais e neopentecostais.
     O Pentecostes é uma data importante do calendário cristão: comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo e é celebrada 50 dias depois do domingo de Páscoa. A doutrina pentecostal se caracteriza pela crença no Espírito Santo e na plenitude da vida moral. Sua primeira igreja no país foi instaurada em 1910, em Belém do Pará, pelos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Chamada de Missão da Fé Apostólica, mais tarde ganharia o nome com que alcançou todo o Brasil: Assembleia de Deus. Também em 1910, o italiano Luigi Francescon deu início à Congregação Cristã, que teve forte presença ao Sul do país, a partir de São Paulo.
     Novas denominações pentecostais ganharam espaço a partir dos anos 1970, como as igrejas Deus é Amor, O Brasil para Cristo, Internacional da Graça e a Universal do Reino de Deus. Todas enfatizam o batismo com o Espírito Santo, recorrem a cânticos de louvor, sessões de cura e de libertação, incentivam a prosperidade, dão testemunhos de graças e milagres alcançados e promovem o assistencialismo. Assim multiplicaram seus fiéis e aumentam cada vez mais sua influência.

Angelo Adriano Faria de Assis é professor da Universidade Federal de Viçosa e autor de Macabeias da colônia – criptojudaísmo feminino na Bahia (Alameda, 2012).

Saiba Mais - Bibliografia
CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil. Viçosa: Ultimato, 2000.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa, VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2002.
VAINFAS, Ronaldo. Traição: um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Saiba Mais - Links

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